Crítica: “A Assassina” é sofisticado e poético filme de artes marciais

Um dos mais adorados cineastas contemporâneos, o chinês Hou Hsiao-Hsien andava sumido do circuito há quase dez anos, desde “A Viagem do Balão Vermelho” (2007). Nos últimos tempos, ele vinha trabalhando na adaptação de uma história de artes marciais em “A Assassina”, um ambicioso projeto que resgata tradições da milenar cultura chinesa.

O longa ganhou o importante prêmio de direção no Festival de Cannes de 2015 e tem arrancado elogios de cinéfilos e críticos por onde passa. De fato, a beleza do filme é inegável. Com planos longos e estáticos que preenchem a tela quase como pinturas de paisagens, Hsiao-Hsien narra a saga de Nie Yinniang (Qi Shu), uma assassina espadachim contratada para matar um governante militar.

Um incomum filme de artes marciais
A trama só parece simples. Ao montar uma intricada rede de intrigas familiares e laços confusos que misturam primos e tios em várias subenredos, o cineasta revisita as raízes da literatura wuxia, gênero sobre artes marciais bastante popular no cinema. Dos clássicos de King Hu ao ótimo “Um Toque de Pecado” (2013), de Jia Zhang-ke, também premiado em Cannes.

Se a narrativa pode soar indecifrável para quem não tem memória fotográfica, Hsiao-Hsien é capaz de desconcertar o espectador com cenas espetaculares. Apoiado pela fotografia de Ping Bin Lee (“Amor à Flor da Pele”), o diretor constrói imagens lentas, dilatadas e completamente absortas na força de gestos, golpes de espada e encontros misteriosos.

Por ter um ritmo estranho à estética das fitas de ação, o filme se distancia de wuxias recentes, como “Herói” (2004), “O Tigre e o Dragão” (2000) e sua continuação “Sword of Destiny” (2016), produzida pela Netflix. “A Assassina” é uma rara obra de artes marciais em que as sequências de luta parecem mais poéticas do que empolgantes.

Avaliação: Bom

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