Crítica: 7 Prisioneiros é retrato duro do drama social brasileiro
O filme, estrelado por Rodrigo Santoro, chega à Netflix abordando o trabalho análogo à escravidão
atualizado
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As mais recentes produções nacionais na Netflix – como Carnaval, Cabras da Peste e Os Salafrários – tiveram a comédia como fio condutor da narrativa. 7 Prisioneiros, longa que estreia nesta quinta-feira (11/11), aposta acertadamente em outra perspectiva. O filme narra um dos dramas reais do país e com linguagem crua e direta aborda o trabalho em situação análoga a escravidão.
7 Prisioneiros, filme dirigido por Alexandre Moratto e com produção de Fernando Meirelles, conta a história do jovem Mateus (Christian Malheiros), que, decidido a dar nova vida para a família, vai para São Paulo trabalhar no ferro-velho de Luca (Rodrigo Santoro). Acontece que, ao chegar no local, o rapaz e seus colegas se veem em uma situação de escravidão.
Segundo dados do Ministério Público do Trabalho, entre 1995 e 2020, 53,3 mil pessoas foram resgatadas no Brasil de trabalhos análogos à escravidão. No filme, a mão-de-obra é explorada com dívidas impagáveis e com a conivência de autoridades corruptas.
O mérito de 7 Prisioneiros, no entanto, estána dinâmica de seus personagens principais – Luca e Mateus. Os dois são, ao mesmo tempo, vítimas e algozes de um sistema que continuará a funcionar, independentemente da vontade de ambos. Se Luca é mais cruel, o dilema de Mateus é tão intenso: como quebrar um roda quando a única luta possível é sobreviver?
Sem buscar uma narrativa fácil, o filme mergulha de forma crua e direta na questão, trazendo reflexões importantes sobre a condição humana, as condições de trabalho e as relações de poder. Chama atenção a escolha do diretor Alexandre Moratto em usar o ferro-velho como um elemento narrativo, funcionando como uma prisão e trazendo um ar de claustrofobia para a história.
Aplaudido no Festival de Veneza, 7 Prisioneiros chega à Netflix com potencial de ganhar audiência mundiais e marcar um grande capítulo do cinema nacional no streaming.