Como fica o cinema nacional em 2021? Produtoras e especialistas opinam
Com cortes de verba do Governo e indefinições a respeito da “volta” dos cinemas, produções nacionais passam por novo momento de incerteza
atualizado
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Desde o ano passado, com o início da pandemia de Covid-19, o mercado cinematográfico passou a conviver sob a sombra das incertezas de como seriam a reabertura das salas e a volta do público. Porém, em 2021, grandes estúdios, como a Warner Bros. e a Disney se adiantaram e utilizaram estreias simultâneas no streaming e nos cinemas como alternativa para lançar seus blockbusters.
Mesmo com grandes audiências nas plataformas, como a estreia de Godzilla vs Kong no HBO Max – veja a crítica -, o caminho natural tende a ser o retorno do modelo tradicional, com lançamentos primeiro nos cinemas. A expectativa passa exatamente pela retomada do “antigo normal”, principalmente por conta da imunização da população.
Contudo, no Brasil, a situação ainda parece longe de se estabilizar. Com a vacinação no país caminhando a passos lentos e os cortes de verbas que seriam destinadas à cultura, o cinema nacional passa por algo parecido com o que acontece em O Feitiço do Tempo, longa de 1993 no qual o personagem de Bill Murray acaba condenado a viver eternamente o mesmo dia.
Prontos há meses, filmes como Eduardo & Mônica (2020) e Marighella (2019) ainda vivem sob a expectativa da retomada do cinema para serem lançados no país – que ainda sofre com as consequências da pandemia e do receio do público. Além disso, outras produções menores buscam o caminho do streaming como alternativa para a exibição.
Com isso, o Metrópoles foi atrás de produtoras renomadas como a O2 Filmes e de especialistas para entender como o mercado cinematográfico do país deve funcionar neste ano, do ponto visto de produção e distribuição, além de entender o que é preciso ser feito para o cinema nacional voltar ao viés de crescimento de outras épocas.
Para o coordenador do curso de cinema do Centro Universitário IESB, Paulo Duro, a tendência é continuar como aconteceu em 2020: streaming como principal alternativa para títulos menores e filmes maiores esperando pelo cinema. “Isso passa muito por uma questão financeira, porque quando você vai para a sala de cinema, você arrecada mais que no streaming. Acontece que, para filmes que não tem tanta esperança de grandes bilheterias, ele aparece como grande solução de exibição”, analisa.
Andrea Barata Ribeiro, sócia e produtora executiva da O2 Filmes, concorda: “A tendência de filmes irem direto para streaming é uma realidade no mundo todo. Agora, as plataformas estão investindo bastante em conteúdo próprio e também licenciado. Portanto, é natural que elas queiram o produto na plataforma. O streaming impacta muito no mercado, já que a demanda de conteúdo aumentou e, com isso, filmes menos comercias também se beneficiam”.
A produtora, no entanto, revelou que a O2 trabalha com a expectativa de lançar Marighella direto nos cinemas ainda em 2021 – sem revelar maiores detalhes. Com direção de Wagner Moura, o longa estava previsto anteriormente para 2019, sofreu com problemas com a Agência Nacional de Cinema (Ancine) e acabou indo para a “gaveta” por conta da pandemia de Covid-19.
Cadeia de produção
Sérgio Ribeiro, professor da faculdade de comunicação da Universidade de Brasília (UnB), apontou que a diminuição dos incentivos na pandemia provocou um “problema em cadeia” no cinema nacional. Isto afetou desde as produtoras até os prestadores de serviço, como as empresas que estão ligadas aos sets de filmagens.
“Entrando em um cenário de pandemia, vemos que o cenário fica muito difícil não só para as produtoras, mas para todos os profissionais de cinema. Toda aquela gama de profissionais que ficam por trás das câmeras perdem o emprego, por não terem mais editais de fomento. Então, é um cenário triste para esses profissionais”, explica.
Para o especialista, o modelo de negócio utilizado no mercado cinematográfico brasileiro precisará passar por uma reformulação para voltar a estar em viés de crescimento. “Os produtores vão ter que partir para a criação de novos cenários, buscar ter uma cadeia mais comercial e pensar em novos modelos de negócio, onde ele e toda a cadeia produtiva consigam sobreviver”, pondera.
“O cenário no geral é muito negativo, não somente porque estamos em pandemia, mas também porque não temos um modelo de fomento que não é desenvolvido há cerca de seis ou sete anos. O cinema vai voltar a crescer a partir do momento que a gente fortalecer um modelo de fomento para a produção, circulação e consumo adequado à nossa realidade”, encerra.