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Cinema nacional fecha 2024 com boas bilheterias e expectativa de Oscar

2024 desponta como um ano expressivo para o cinema nacional e dados mostram a retomada do setor após uma estagnação na pandemia

atualizado

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Foto colorida do elenco de Ainda Estou Aqui - Metrópoles
1 de 1 Foto colorida do elenco de Ainda Estou Aqui - Metrópoles - Foto: Reprodução

O ano de 2024 foi significativo para o cinema nacional. Desde os primeiros meses, o audiovisual brasileiro tem apresentado resultados expressivos, tanto em bilheteria quanto em reconhecimento internacional, consolidando um período de retomada após os desafios da pandemia de Covid-19.

Dados da Agência Nacional do Cinema (Ancine) apontam que, até o momento, os filmes nacionais levaram 11 milhões de espectadores aos cinemas, com uma receita de R$ 217 milhões — é o melhor resultado desde 2020, com destaque para Ainda Estou Aqui, filme de Walter Salles estrelado por Fernanda Torres, que para além de somar mais de 3 milhões de expectadores desde o começo de novembro, ainda é esperança brasileira de Oscar. 

Para Fabiana Lima, crítica de cinema e fundadora do perfil Cinemafilia, ainda é cedo para definir o impacto histórico de 2024, mas é inegável a relevância do ano para o cinema nacional.

“Podemos dizer que é o melhor ano do cinema brasileiro desde a pandemia. Tivemos filmes em todos os principais festivais internacionais — Berlim, Veneza e Cannes —, além de outros eventos importantes como Toronto e Nova York. Isso evidencia uma conexão renovada entre o cinema brasileiro e o público, tanto no Brasil quanto no exterior”, explica ao Metrópoles.

O desempenho nas bilheterias também impressiona. Pelo menos quatro produções nacionais ultrapassaram a marca de 1 milhão de espectadores, algo que não acontecia desde 2019: Nosso Lar 2 (1,5 milhão de espectadores), Os Farofeiros 2 (1,9 milhão), Minha Irmã e Eu (2,3 milhões) e o recordista Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, que já acumulou mais de 2,5 milhões de espectadores.

“O sucesso de Ainda Estou Aqui é resultado de uma combinação de fatores”, analisa Fabiana. “Walter Salles é um nome reconhecido internacionalmente, e o filme conta com um elenco de peso — Fernanda Torres, Fernanda Montenegro e Selton Mello —, além de uma distribuição global pela Sony. Além disso, o tema central, que dialoga com questões sociais e políticas atuais, tem atraído o interesse tanto de audiências brasileiras quanto estrangeiras”, salienta.

O papel da Lei de Cotas

Outro acontecimento importante pro cinema nacional em 2024 foi a retomada da Cota Tela regulamentada novamente pelo Decreto nº 12.323/2024, assinado em julho. A lei estabelece um número mínimo de filmes nacionais que devem ser exibidos nos cinemas, garantindo espaço para as produções locais.

Fabiana destacou a importância dessa política pública: “Países que implementam cotas de tela têm indústrias audiovisuais mais reconhecidas e valorizadas. No Brasil, muitos filmes são financiados com recursos públicos, então é essencial que eles cheguem ao público. A cota de telas não é uma solução imediata, mas cria um ambiente favorável ao crescimento do mercado”.

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Os Farofeiros 2
Ingrid Guimarães e Tatá Werneck em Minha Irmã e Eu, lançado no final de 2023
O Auto da Compadecida 2
Fernanda Torres em Ainda Estou Aqui
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O longa-metragem Motel Destino foi escolhido para mostra competitiva do Festival de Cannes 2024

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Ingrid Guimarães e Tatá Werneck em Minha Irmã e Eu, lançado no final de 2023

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Fernanda Torres em Ainda Estou Aqui

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Ator e crítico, Nicolas Avansini também comentou sobre o impacto da medida: “O cinema nacional precisa de espaço nas salas. Filmes como Ainda Estou Aqui só conseguem ter um alcance tão grande porque há investimento e políticas que garantem sua presença no circuito”.

Mudanças no mercado cinematográfico

Na avaliação de Nicolas e Fabiana, o setor audiovisual cresceu em 2024 porque começou a “jogar o jogo” com mais eficiência, investindo em campanhas de marketing mais robustas e em estratégias de distribuição.

“É fundamental que o público saiba que os filmes existem. Temos visto uma mudança nesse sentido, com distribuidoras entendendo a importância de promover os títulos de forma ampla”, concorda Fabiana.

Além disso, segundo Nicolas, o ambiente político mais favorável à cultura contribuiu para o crescimento. Com editais mais acessíveis e iniciativas que estimularam novos festivais e projetos, o setor ganhou um novo fôlego. Fabiana reforçou esse ponto: “Há um sentimento de esperança no ar. Isso impacta diretamente na forma como o cinema é feito e consumido. Filmes que estavam engavetados foram lançados, e novos projetos ganharam vida”.

“Nova geração e tradicionalismo se encontram”

Outro aspecto que chama atenção é o surgimento constante de nomes na indústria brasileira. Além de Walter Salles, diretores como Karim Aïnouz, de Motel Destino, e Juliana Rojas, diretora de Cidade; Campo, são destaque em festivais internacionais.

“Embora figuras como Walter Salles sejam fundamentais, há uma geração emergente que merece atenção. Karim, Juliana, Guto Parente, entre outros, estão construindo trajetórias sólidas e expandindo a diversidade do cinema brasileiro”, analisa Fabiana.

Essa diversidade, segundo os entrevistados, é um dos grandes trunfos do Brasil no mercado internacional. Com histórias que dialogam tanto com a realidade local quanto com questões universais, os filmes brasileiros têm encontrado eco em plateias de diferentes culturas.

Desafios, inclusive no streaming

Embora os números e o reconhecimento internacional sejam animadores, ainda há desafios a serem superados. A distribuição desigual de filmes nacionais nas salas e o domínio das plataformas de streaming são barreiras significativas, que já estão sendo discutidas no âmbito legislativo.

O Projeto de Lei 2331/22, por exemplo, em análise na Câmara dos Deputados, regulamenta os serviços de vídeo sob demanda (VoD), obrigando as empresas a recolher a Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional (Condecine)     —tributo cuja arrecadação destina-se ao fomento do cinema e do audiovisual nacionais.

A proposta estabelece ainda uma série de outras medidas, como a ampliação das competências da Ancine e cotas para as produtoras brasileiras independentes.

“Não adianta fazermos bons filmes se eles não chegam ao público. Os streamings deveriam ter uma obrigação maior de fomentar a indústria local, direcionando parte de seus lucros para produções nacionais”, afirma Fabiana.

Para Nicolas, a chave está em fortalecer o hábito de consumo de cinema brasileiro: “Precisamos criar um ambiente onde ir ao cinema seja acessível e estimulante para todos. Isso passa por políticas públicas, mas também por estratégias de mercado mais alinhadas com o público”.

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