Cinema: em “Florence”, Meryl Streep interpreta a pior cantora do mundo
Filme dirigido por Stephen Frears traz Meryl no papel de uma madame que se julga uma cantora de ópera
atualizado
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Florence Foster Jenkins foi a pior cantora do mundo. Só ela não sabia disso. E não por vaidade ou confiança num talento que não tinha. Talvez por uma espécie de autismo delirante que a fazia perder, completamente, o senso do ridículo.
Herdeira de um banqueiro milionário, a “artista” promovia saraus nababescos beneficentes onde seus gritos desafinados lancinantes constrangiam convidados, empregados e até o marido, que não tinha coragem de dizer a verdade. E nem podia. Rica, mecenas e poderosa, de certa forma Florence intimidava.
Pois essa figura histriônica dos anos 1940 é inspiração para duas produções cinematográficas de estilos diferentes lançadas recentemente nas salas de cinema. Uma é “Marguerite”, do francês Xavier Giannoli, um esplendor de filme com atuação arrebatadora de Catherine Frot. O outro é “Florence – Quem É Essa Mulher”, do inglês Stephen Frears, uma bobagem afetada que traz no papel-título Meryl Streep.
Com 19 indicações ao Oscar e três estatuetas conquistadas na maior festa do cinema mundial, a consagrada atriz norte-americana, assim como a personagem que dá vida nas telas, parece ter perdido o bom senso. No filme, como já é sabido, ela é uma amante da música que não mede esforços para fazer com que as pessoas ouçam seus rompantes desafinados.
“Pode dizer tudo, menos que não cantei”, diz ela, em dado momento da fita, ao marido vivido pelo canastrão Hugh Grant. “Música foi e é minha vida”, insiste em dizer Florence, como se sua paixão por essa arte fosse um passaporte de permissão para cantar mal.
Atuação de Meryl Streep é patética e vulgar
É perceptível que Stephen Frears optou pelo humor ao contar a trajetória dessa peculiar personagem, um caminho até natural, dadas as circunstâncias patéticas vividas por Florence, mas o cineasta desafina ao exagerar nas tintas cômicas.
E não é apenas na narrativa do filme que o diretor escorrega, mas também nos figurinos e cenários exageradamente hollywoodianos. Enfim, tudo em “Quem É Essa Mulher” é uma mise-en-scène do ridículo.
Esse exagero no visual do filme e nas atuações pode até ter sido proposital, mas não colou, soando até demasiadamente fake. A ponto de Meryl Streep apresentar aqui um de seus desempenhos mais pífios, vagando entre o chulo e vulgar numa dobradinha improvável com o inglês Hugh Grant. Bem distante da densidade e intensidade desenvolvida pela exuberante Catherine Frot em “Marguerite”.
Aliás, se o espectador tiver que optar entre um e outro na hora de conferir a carteira, escolha a versão francesa, mais elegante, sincera e deliciosamente divertida em sua abordagem cruel sobre a história de uma farsa.
Avaliação: Ruim
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