Cinema do DF é diversidade, avaliam vencedores da Mostra Brasília
Cineastas vencedores da Mostra Brasília destacam como o DF se consolidou como um ponto de produções renomadas de cinema
atualizado
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É consenso entre os vencedores das categorias de Melhor Longa e Melhor Curta da 26ª edição da Mostra Brasília, que ocorreu durante a 57ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, de que a produção audiovisual do Distrito Federal vem ganhando bastante espaço, ocupando um lugar de destaque entre os principais festivais de cinema do país e se destacando pela diversidade de produção e temas.
Os longas premiados foram Tesouro Natterer, de Renato Barbieri, pelo júri oficial, e A Câmara, de Cristiane Bernardes e Tiago de Aragão, pelo júri popular. Eles destacam uma retomada da aclamação da produção documental no festival. Já os curtas escolhidos Via Sacra, de João Campos, pelo júri oficial, e Manequim, dos irmãos Diego e Danilo Borges, pelo júri popular, enfatizam a diversidade de histórias produzidas no quadradinho.
Para conhecer a trajetória desses artistas da cidade e avaliar o cenário audiovisual no DF, o Metrópoles conversou com os diretores premiados da Mostra Brasília e destaca estes que são nomes que já atuavam no audiovisual do DF mas que se destacaram com suas produções na edição de 2024 da Mostra.
Do DF para o mundo
Consagrado no cinema nacional, Renato Barbieri foi vencedor da Mostra Brasília na categoria Melhor Longa com o Tesouro Natterer, pelo júri oficial. Com passagens em diversos festivais e vários prêmios, o filme pode dar ainda mais destaque para as produções do DF, já que foi pré-selecionado para concorrer ao Oscar 2025 na categoria Longa-Metragem Documentário.
Entusiasta das produções do DF, Renato diz que a característica do cinema do Distrito Federal é a diversidade. “O cinema do DF é de uma pluralidade e cada cineasta produz um cinema único aqui. Eu acho isso incrível e muito rico, porque você tem cineastas fazendo uma coisa completamente diferente”, destaca.
Além disso, ele festejou o retorno e o grande prestígio da edição de 2024 do Festival de Brasília. “A gente tem acompanhado a evolução da nossa Brasília. Eu acho que ela nunca esteve tão prestigiada e quero que se mantenha assim. A produção do Distrito Federal é uma potência cinematográfica”, ressaltou.
Documentários também são populares
A Câmara é o produto final de um trabalho de pesquisa intenso de Cristiane e que se transformou para a tela com o olhar de Tiago Aragão. Os dois, que nunca tinham colaborado juntos, se uniram para dar luz a um projeto que mergulha na rotina das deputadas brasileiras na Câmara dos Deputados.
Na Mostra Brasília, eles foram premiados com o título de Melhor Longa, pelo júri popular, e revelam que não estavam esperando saírem vencedores. “Eu até achei que a gente tinha chance de ganhar em alguma categoria técnica, porque o trabalho que foi feito por toda a equipe foi excelente, mas o prêmio de júri popular foi talvez a coisa mais bacana que possa ter acontecido com o filme”, destaca Cristiane.
Ao falar sobre o cenário do cinema no DF, os diretores destacam também que um grande movimento de incentivo a essas produções ocorreu após a consolidação da cultura do DF nos últimos anos, por intermédio de uma série de editais e investimentos públicos.
“Talvez hoje o que mais marca a produção do audiovisual seja a diversidade. A gente tem filmes muito diferentes sendo feitos e pessoas muito diferentes fazendo cinema e eu acredito que isso é um resultado do investimento público, que pode inserir novas pessoas, inclusive pode fazer com que diferentes pessoas vislumbrem o audiovisual como uma possibilidade profissional”, destacou.
Diversidade de histórias
João Campos começou a carreira no audiovisual atuando, seja em filmes ou até mesmo em novelas, e sempre foi muito curioso pelo processo de fazer cinema.
Esse olhar do ator, o ajudou muito na construção de Via Sacra, que surgiu ainda na pandemia como uma maneira de passar o tempo com amigos que estavam presos com ele durante o lockdown.
Via Sacra foi premiado como Melhor Curta-Metragem pelo júri oficial na Mostra Brasília e João avalia que o sucesso de suas produções passa um pouco por sua curiosidade e experiência como ator. “A partir da pandemia, a caminhada como ator começou a andar junto com a de diretor, então foi um marco na minha carreira, mas não tem nenhuma pretensão de abandonar a atuação, até porque é o meu ganha-pão e um trabalho que eu amo, mas, desde então, o ator, o diretor e o roteirista caminham juntos”, explicou.
Para João, o cenário audiovisual do DF inspira otimismo e expira diversidade.
“O cinema de Brasília está crescendo muito, principalmente em diversidade. Eu acho que existe um movimento de novas vozes, principalmente a partir de uma abertura, ainda que tímida, para pessoas das periferias. A partir do momento em que a gente quebra essa hegemonia de pessoas brancas, de classe média que fazem cinema e abre para que outros olhares cheguem, de pessoas negras, mulheres, pessoas trans, jovens, a trajetória do nosso cinema ganha novo oxigênio, ganha novos olhares que enriquecem muito”, pontuou.
Incentivo público essencial
Os Irmãos Danilo e Diego Borges têm um longo histórico no Festival de Brasília. Lá, em 1997, os dois estrelaram o filme Pobre É Quem Não Tem Jipe, que foi premiado na ocasião. Foi assim que o “bichinho” do cinema os pegou desde cedo, com Danilo indo para uma área mais da produção, enquanto Diego foi para o caminho da atuação.
Com uma produção independente por intermédio da produtora de Danilo, os irmãos levaram o prêmio de Melhor Curta, pelo júri popular, na Mostra Brasília, e reconhecem o feito que tiveram. “A gente ficou feliz por ter ganhado um prêmio, porque acho que reforça mais a qualidade do filme de chegar a todo mundo”, explicou Diego.
Danilo avalia ainda que o cenário do cinema local cresceu muito graças aos incentivos à cultura, por meio de leis e editais, evê um cenário de produção de conteúdos nunca antes visto. “Eu tô bem otimista com os próximos anos e espero que a gente consiga continuar com essas políticas públicas de incentivo, porque tivemos anos difíceis do governo atacando a cultura, mas acho que tem muita gente legal surgindo, muitos olhares novos e a galera das antigas também está produzindo muita coisa legal”, concluiu.