Cineastas sobre cancelamento do Festival de Brasília: “Vamos reverter isso”
A edição de 2020 de uma dos mais importante da cultura nacional foi cancelada por falta de recurso: comunidade se mobiliza
atualizado
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A notícia de que a 53ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, prevista para ocorrer neste ano, será cancelada pegou de surpresa cineastas e a comunidade cultural do Distrito Federal. Em depoimento ao Metrópoles, os produtores falam em tentar reverter a decisão da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec).
Neste domingo (07/06), o secretário de Cultura, Bartolomeu Rodrigues, confirmou que o festival não ocorrerá em 2020. Segundo o chefe da pasta, o orçamento previsto para a realização – de R$ 3 milhões – não será disponibilizado, inviabilizando a realização do evento. Trata-se de uma consequência da crise econômica decorrente da pandemia de coronavírus.
Dacia Ibiapina, professora da Universidade de Brasília (UnB) e cineasta, afirmou ter sido pega de surpresa com a notícia e questiona as escolhas da gestão. “Em um momento desse de pandemia, opta-se para contingenciar os recursos da cultura, tirando o sustento de diversas pessoas que estão paralisadas, sem poder trabalhar”.
Uma das vozes mais ativas na cena cultural brasiliense, a cineasta fala em procurar uma saída: “A gente quer que tenha ao festival. Estamos dispostos a tentar reverter isso”.
Na mesma linha segue o diretor Iberê Carvalho (Homem Cordial e Último Cine Drive-in).”Essa conversa fiada de que não tem dinheiro ouvimos todo ano. Se houver vontade política dá para fazer”, opina. “Sinto que não há diálogo com a classe, sabemos de tudo pela imprensa. Se eles não fizerem, a gente faz [o festival]. Vai ter uma mobilização nacional”, concluiu.
Para Iberê, o cancelamento do Festival de Brasília está inserido em um movimento de desmonte das políticas públicas de cultura. “É muito triste, é um processo de esvaziamento. Acabou-se com o ministério, paralisou a Ancine. Parece uma ação coordenada”, avaliou.
Vencedor do Festival de Brasília de 2014 com o filme Branco Sai. Preto Fica, o cineasta Adirley Queirós (foto em destaque) cobrou mais diálogo com a cena cultural.
“O cancelamento seria um grande erro da Secretaria de Cultura. O Festival de Brasília, pela sua força, seria um lugar muito propício para se debater o atual momento do cinema brasileiro”, avaliou. “Podemos pensar formas novas, que driblem a crise e a pandemia”, finalizou.
Outro lado
Ao Metrópoles, o secretário de Cultura do DF explicou que foram tentadas formas de se realizar o evento em meio à pandemia. No entanto, segundo Bartolomeu Rodrigues, não há recursos disponíveis para a realização do Festival de Brasília.
De acordo com o gestor, a pasta criou um grupo de trabalho para desenvolver soluções criativas para a realização do festival. Afinal, por conta da pandemia, aglomerações impedem o funcionamento dos cinemas – mesmo onde essa modalidade de entretenimento tem funcionado, há diversas restrições.
“Tivemos uma conversa com o Cine Drive-in, que recepcionou a ideia. Pensamos em fazer um modelo híbrido, que contasse também com transmissões em streaming. No entanto, constatamos que não tínhamos mais os recursos”, explicou o secretário. “Não tive nenhuma sinalização [de que o recurso viria], portanto, preferi cancelar”, conclui.