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Cine Ceará 2019: cearenses mostram sua força em 29ª edição do evento

Nesta quinta-feira (05/09/2019), a programação reserva o longa GReta, com Marco Nanini

atualizado

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Celso Oliveira/Divulgação
Cine-Ceara2
1 de 1 Cine-Ceara2 - Foto: Celso Oliveira/Divulgação

Fortaleza (CE)* – O Cine Ceará nunca esteve tão cearense. Realizado há quase três décadas, o evento sempre foi um espaço importante de exibição do cinema do estado, mas isso só foi crescendo nos últimos anos. Em 2019, oito longas e 22 curtas-metragens do Ceará integram a programação do evento. E a lista poderia ser ainda maior, uma vez que o festival recebeu inscrições de 10 longas e 102 curtas cearenses.

“Em 1994, pouco tempo depois do fim da Embrafilmes, foram feitos quatro longas em todo Brasil, entre eles um do Ceará (A Saga do Guerreiro Alumioso, de Rosemberg Cariry). Agora, são dez filmes cearenses inscritos. Então, decidimos mudar a Mostra Olhar do Ceará para incluir longas. Resolvemos privilegiar a prata da casa, e não foi por uma questão de paternalismo, mas porque são bons filmes”, afirmou Wolney Oliveira, diretor executivo e membro do time de curadoria do Cine Ceará.

Wolney Oliveira, por sinal, tem função dupla no festival: organizador e realizador. Ele é diretor do documentário Soldados da Borracha, exibido fora de competição na noite desta quarta-feira (04/09), no Cineteatro São Luiz. Em conversa exclusiva com o Metrópoles, o cineasta revelou que tem um carinho enorme pelo evento, cuja semente foi plantada pelo pai, Eusélio Oliveira, mas brinca: “Este é o 27º Cine Ceará que eu produzo. Neste meio tempo, eu fiz quatro longas-metragens. Eu adoraria ter feiro 27 longas e quatro festivais.”

Arlindo Barreto/Metrópoles
Wolney Oliveira

Sobre a nova fase do cinema cearense, Oliveira destaca a proliferação de faculdades e cursos audiovisuais no estados. “O estado do Ceará, hoje, é um dos poucos no Brasil que possuem dois cursos superiores de cinema, o da Universidade de Fortaleza e o da Universidade Federal do Ceará, além de cursos em instituições como a Vila das Artes, o Porto Iracema e a Casa Amarela Eusélio Oliveira. Então, todos os anos estão se formando pelo menos 30 novos cineastas ou realizadores”, concluiu.

Boom cearense

Veterano diretor cearense, Rosemberg Cariry ressaltou que o boom do audiovisual cearense não se deu apenas com relação a quantidade de produções, mas também diz respeito à variedade. “Estamos vendo novas gerações com muito vigor, com muita criatividade e diversidade. Temos o Halder Gomes com seu cinema popular, com imenso sucesso de bilheteria, temos o Glauber Filho com um cinema espírita, temos um cinema mais experimental e reflexivo como o do Petrus Cariry, temos o pessoal do Alumbramento. São vários os cinemas feitos no Ceará”, apontou o diretor de Notícias do Fim do Mundo, filme que integra a Mostra Competitiva Ibero-Americana de Longa-Metragem.

Rogerio Resende/Divulgação
Rosemberg Cariry

Animado com o atual momento do cinema local, Rosemberg Cariry também demonstra certa preocupação com o cenário político e cultural do Brasil. “Vejo este momento com muita tristeza, em que a liberdade do artista está sendo cerceada, as instituições culturais brasileiras estão sendo desmontadas e atacadas”, disse o cineasta que realizou seu novo longa apenas com recursos próprios. Ele aponta que um pequeno antídoto para o desmonte da Agência Nacional de Cinema (Ancine) é o investimento feito por governos locais. “A esperança é que o Ceará dê uma resposta através do seu governo, que sejam feitos editais sem a Ancine, que seja criada a Ceará Filmes”, concluiu.

Anunciada há alguns anos, a Ceará Filmes seria uma agência de fomento e distribuição cinematográfica, nos moldes de casos de sucesso como a RioFilme e da Spcine. A companhia, no entanto, ainda não saiu do papel. Em discurso na cerimônia de abertura do Cine Ceará, o governador Camilo Santana anunciou planos para finalmente desenvolver a Ceará Filmes e prometeu investir 1,5% das receitas do estado em cultura.

Apesar das promessas políticas, parte da classe artística ainda olha com certa desconfiança. “A expectativa é que o que foi anunciado aconteça de fato, porque não temos tido investimentos a nível estadual. O último edital feito, e não totalmente pago, é de 2016. Mesmo que saia um edital ainda em 2019, sabemos que será com um valor reduzido, pois perdemos os arranjos regionais da Ancine. Então, mesmo que saia, devemos ter uma diminuição de obras produzidas. Estamos em um bom momento, mas corremos o risco de termos um limbo de produções realizadas no estado”, apontou Allan Deberton, diretor do filme de encerramento do festival, Pacarrete.

Cleiton Thiele/Agência Pressphoto
Allan Deberton

Natural da pequena Russas, no interior do Ceará, Deberton é um nome da nova safra do cinema local. Diretor, produtor e roteirista, ele faz sua estreia em longas com Pacarrete, grande vencedor do último Festival de Gramado. O cineasta deixou o Rio Grande do Sul com oito Kikitos, incluíndo Melhor Filme, e agora realiza sua primeira exibição no estado em que nasceu.

O Cine Ceará continua na noite desta quinta-feira (05/09/2019) com a exibição de Greta, do diretor cearense Armando Praça. Estrelado por Marco Nanini, o drama fez sua pré-estreia mundial no cultuado Festival de Berlim.

* O repórter viajou a convite da organização do evento

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