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Cannes: “Wildlife”, de Paul Dano

Primeiro filme do ator Paul Dano na direção privilegia as atuações e impressiona por sua mão segura e sóbria

atualizado

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Festival de Cannes/Divulgação
Wildlife
1 de 1 Wildlife - Foto: Festival de Cannes/Divulgação

Para se fazer o primeiro filme como diretor, sofre-se uma pressão forte, ainda mais quando o diretor em questão é um ator de Hollywood com uma carreira de quase 20 anos. Para isso, Dano, melhor conhecido como o adolescente Dwayne em “Pequena Miss Sunshine”, provavelmente se inspirou em conselhos de diretores com quem já trabalhou, como Paul Thomas Anderson, James Marsh, Richard Linklater, Ang Lee, Spike Jonze, Rian Johnson, Denis Villeneuve, Steve McQueen, Paolo Sorrentino e Bong Joon-Ho, entre outros. Também escolheu um livro de Richard Ford, um dos maiores do romancistas americanos do século 20 para adaptar.

É uma história sem muitas surpresas, mas com grande ressonância nos Estados Unidos de hoje. O menino Joe (Ed Oxenbould) – que se assemelha fisicamente ao diretor – está testemunhado o término do casamento de seus pais, Jerry (Jake Gyllenhaal) e Jeanette (Carey Mulligan). De classe média, a família está entrando na pobreza, devido à incapacidade de Jerry, veterano da Segunda Guerra, de manter um emprego. Orgulhoso, ele não permite que a esposa volte à trabalhar. Quando ele consegue um emprego arriscado, que requer muito tempo fora de casa, o casamento termina de vez e Jeanette resolve se virar na vida.

É o retrato de uma família dividida perante de forças de fora de seu controle, como a guerra (embora não retratada no filme, presente no personagem de Jerry) e a desolação econômica, dois fatores afetam a classe média de hoje no mundo inteiro. Quando Joe consegue um emprego como assistente de um fotógrafo de loja de departamentos que tira retratos de família, entendemos que o filme conta a história de uma família específica como representação de todas as outras que sentam, aparentemente felizes, para tirarem seus retratos.

O que acontece é algo fácil de explicar, mas difícil de executar. No balanço entre personagens e trama, “Wildlife” pendula para os personagens. Sentimos, no final das contas, que estamos vendo pessoas de verdade, sem dramas histéricos e apocalípticos, mas sim o lento esmagamento que a vida executa em seus sonhos. Gyllenhaal e Mulligan estão no topo de seus desempenhos como atores, só que não no tipo de papel que lhes renderá uma estatueta do Oscar – sequer consigo imaginar quais clipes seriam selecionados para a cerimônia. Este tipo de papel é muito mais difícil de fazer bem do que aqueles que contém cenas de intensidade exagerada como muletas.

O olhar do roteiro – aquele do menino Joe – é a principal artimanha em manter o filme discreto. Joe, afinal, ainda não entende o mundo dos adultos, assim como não fica tão exposto ao que os adultos em sua volta estão fazendo. À medida em que o tempo passa, Joe vai se inserindo neste novo contexto, nunca tão explicitamente quanto num jantar que sua mãe arma com um admirador.

No começo falei que Paul Dano usou das melhores inspirações para fazer seu primeiro filme. Para o próximo, é bem possível que seu próprio trabalho já seja o chamariz.

Avaliação: Bom (3 estrelas)

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