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Cannes: “Whitney”, de Kevin MacDonald

Documentário biográfico da cantora é um tanto regular, mas contém revelações bombásticas.

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Festival de Cannes/Divulgação
Whitney
1 de 1 Whitney - Foto: Festival de Cannes/Divulgação

O gênero do biopic musical já está um tanto batido. Tão batido que, com tantos artistas reais para se conhecer e discutir, talvez os documentários tenham uma vantagem por serem mais relevantes do que as ficções, numa instância aonde a vida real é mais interessante que a arte. O blockbuster mais recente é “Whitney”, sobre a americana Whitney Houston, morta em 2012, afogada em uma banheira de um quarto de hotel após uma longa luta contra as drogas.

Documentários meramente “regulares” são capazes de atingir um nível “bom” ao usar duas muletas: um assunto interessantíssimo, ou uma revelação que chocará o espectador. (Como contraste, documentários excelentes narram histórias fantásticas de assuntos banais ou comuns). Whitney Houston, na tela, sempre foi elétrica. Ouví-la cantando na sala Lumière, principal palco do Festival de Cannes, é de arrepiar. Essa é a parte fácil deste documentário. A parte difícil, que o diretor Kevin MacDonald também conseguiu, foi a notícia de um escândalo inédito na vida de uma cantora a essa altura tão investigada e explorada.

O formato é o clássico que conta a história de uma pessoa desde o nascimento até sua morte. Ele começa com uma montagem em alta velocidade do estrelato de Whitney, embalado por uma versão acapella de “I Wanna Dance with Somebody”, para depois revelar que sua mãe, Cissy Houston, uma bem-sucedida cantora de background a educou desde o berço para ser a maior voz da indústria musical, ensinando-a a cantar com “a cabeça, o coração, e as vísceras. Sua vida familiar se despedaça com a separação dos pais e depois ela segue para uma carreira no show business que a levaria para o desastre.

O elenco de coadjuvantes é importante e extremamente sincero. Seus dois irmãos descrevem o passo-a-passo de sua ascensão, e as primeiras experiências com drogas (ambos trabalharam em sua equipe de turnê). Seu marido, Bobby Brown revela, ao não falar quase nada de interessante, seu efeito sobre ela, e executivos da indústria fonográfica explicam o que sua voz tinha de tão especial. Até Kevin Costner, seu parceiro em cena para “O Guard-Costas” contribui com um depoimento.

Whitney é representada tanto por aparições midiáticas quanto em cenas domésticas e de lazer. Seus irmãos, sua mãe e uma avó de criação convivem por tanto tempo com os demônios dela que em “Whitney” eles parecem perder a guarda. Ouvir algumas das coisas que eles relatam é desconcertante. Os parentes mais velhos não admitem uma visão negativa sobre a cantora, enquanto os mais novos confessam todos os seus pecados, as vezes contradizendo de forma extremamente desagradável.

Além do retorno a um dos rumores que mais perseguiram Whitney em vida, o de que ela teria uma relação lésbica com sua melhor amiga, Robyn Crawford, aqui confirmado, apesar de declarações homofóbicas de seus familiares, “Whitney” não tem medo de encarar coisas extremamente desagradáveis. A vida de sua filha foi mais trágica do que a da própria Whitney. Ativistas negros protestavam sua imagem como “branca” demais. E, finalmente, a revelação de abuso sexual dentro da família.

Se “Whitney” é um filme forte e pesado para seus espectadores, é difícil imaginar como sua protagonista viveu tudo isso.

Avaliação: Bom (3 estrelas)

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