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Cannes: “Triangle of Sadness”, de Ruben Ostlund

Inspirado no sucesso de “The Square”, diretor sueco afia as garras, mas não expande seus temas.

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Festival de Cannes/Divulgação
Triangle of Sadness
1 de 1 Triangle of Sadness - Foto: Festival de Cannes/Divulgação

Quem lembrar do início da pandemia, em 2020, certamente carregará na memória imagens de gigantescos navios de cruzeiro atracados em vários países sem que seus passageiros pudessem desembarcar. A proximidade entre hóspedes e equipes causaram microcosmo de insalubridade aonde o vírus se alastrava com facilidade. Em “Triangle of Sadness”, novo filme do diretor sueco Ruben Ostlund, as sequencias de maior impacto são dentro de um iate luxuoso, mas a comédia escatológica que ele evoca talvez afete a indústria de cruzeiros no mesmo tanto que o coronavirus.

Carl (Harris Dickinson) e Yaya (Charlbi Dean), um casal de jovens modelos, começam o filme no final de um jantar caro, a conta da refeição na mesa entre eles. Carl, que ganha menos no trabalho, espera que Yaya pague, como ela prometera no dia anterior. Yaya, por sua vez, espera que Carl cumpra seu papel de homem e pague. O momento em questão serve como uma prévia do que Ostlund está tramando: discutir, ad infinitum, as estruturas sociais em que nos organizamos.

O termo “triângulo da tristeza”, descobrimos logo no comecinho, se refere ao espaço entre nossas sobrancelhas, aonde as primeiras rugas de tristeza costumam aparecer. É também uma metáfora para a contradição da pirâmide social, onde poucos tem o privilégio de estar no topo, e uma larga base compõe seu nível mais carente. A trama do filme ocorre em torno de um cruzeiro para clientes ricaços. Carl e Yayá estão a bordo porque ela ganhou sua hospedagem em troca de posts para milhões de seguidores.

É aí que o filme começa a degringolar para uma série de clichês, todos já vistos em sátiras melhores e mais ambiciosas. Enquanto o jantar era no meio de uma discussão entre iguais, o cruzeiro mistura todo tipo de estereótipo da riqueza para tentar desmascará-la. Algumas situações são incisivas, como quando Carl encrenca com um funcionário que teima em lavar o deck sem camisa, e troca olhares com Yaya. Outras, como uma perua que insiste para todos que as velas do navio devem ser lavadas, apesar dele não ter velas (mordante na primeira menção, redundante nas outras).

A própria estrutura no navio sugere uma análise mais sofisticada, pois não se dividem em hóspedes e funcionários. A base da pirâmide é a mesma. Em cima estão os hóspedes trilhardários, mas o resto se divide em dois: no meio da pirâmide temos os funcionários (brancos) que atendem os hóspedes e os funcionários (de minorias) que se encarregam da limpeza. Os eventos do filme chacoalham e estouram a pirâmide, aonde dinheiro e status de influencer querem dizer menos, e habilidades e capacidades querem dizer mais.

A comédia, porém, mascara uma condenação maior, aonde ninguém quer ser bonzinho ou prestativo, existem apenas grupos prontos para oprimirem outros grupos, a depender das circunstâncias. Com duas horas e meia de duração, porém, há pouco a ser explorado–apenas escaladas de ultraje e repetição. O caso mais emblemático é a presença de uma personagem incapacitada, capaz de dizer uma só frase: “in den wolken,” que quer dizer “no meio das nuvens”. Sua presença é um mistério e as risadas que ela evoca meio sem sentido. Se o filme tivesse algo a dizer além da crítica de futilidade e mau caráter da elite, especialmente feito por um diretor que apresenta seu filme de smoking no festival mais prestigioso do mundo, valeria mais a pena.

Avaliação: Regular (2 estrelas)

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