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Cannes: “Top Gun: Maverick”, de Joseph Kosinski

A Guerra Fria acabou, mas os pilotos americanos de caças continuam incríveis.

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Festival de Cannes/Divulgação
Top Gun Maverick
1 de 1 Top Gun Maverick - Foto: Festival de Cannes/Divulgação

Cannes foi tomada e dominada por Tom Cruise e seu esquadrão de pilotos de caças. Antes da première, caças franceses voaram sobre a Croisette, soltando fumaça vermelha, branca e azul, bem EUA. Os franceses foram surpreendentes: conhecidos por um certo esnobismo artístico e por ressentir o colonialismo cultural do Tio Sam, não pararam de aplaudir o ator e seu filme de ação militarística americana.

Uma recepção como essa deve ser um alívio para Cruise e o estúdio. Originalmente marcado para um lançamento em 2019, Top Gun: Maverick não ficou pronto a tempo e foi postergado para 2020. Frustrado novamente pela pandemia, Cruise decidiu que não lançaria o filme até os cinemas mundiais re abrirem. Em um ano aonde todo tipo de filme foi lançado no streaming, a pressão sobre Cruise (atuando também como produtor) deve ter sido imensa. Críticos e público hoje agradecem, mas isso não era garantido lá atrás.

Quem entrar no filme desavisado pode se confundir. Vemos a mesma abertura e a mesma trilha sonora do original, lançado em 1986. Quem souber que está no filme certo, já se reclina nos braços da nostalgia. Pouco mudou desde então para Pete “Maverick Mitchell” (Tom Cruise). Ainda avesso a obedecer ordens, não progrediu na carreira militar e continua sendo um piloto de testes para a marinha americana. Após uma sequencia inicial de tirar o fôlego, Maverick está em maus lençois com um Almirante (Ed Harris) quando é convocado de volta para a escola de pilotos Top Gun.

Animado para a nova aventura, Maverick tem uma pequena surpresa: ele não irá voar a missão, mas sim treinar pilotos (mais novos, obviamente) para executar a missão. É aqui que a emoção, e portanto o subterfúgio, do filme começa. Um dos pilotos em treinamento é Bradley “Rooster” Bradshaw (Miles Teller), filho de seu antigo parça, morto durante um acidente onde Maverick, sem querer, tem um pezinho de culpa.

Se o Top Gun original era um filme de testosterona e agressão bélica, sua sequencia entende perfeitamente que o mundo mudou, e é por isso que o filme funciona, mesmo que poucos tão percebido um detalhe muito significativo. Top Gun: Maverick é um filme cheio de homens machões chorando. Diversas vezes. Maverick chora que não acaba mais. Rooster chora pelos cantos e dentro do cockpit. Até Val Kilmer, que tinha recebido o apelido “Iceman” por ser frio como o gelo, chora. Choram por questões de macho, mas choram, e está aí o truque: as emoções estão acima da ação. Até uma suposta cena de sexo entre Cruise e Jennifer Connelly entrará para a história como uma das piores da história do cinema. O público pode até estranhar uma atriz com mais de 50 anos estrelando com Cruise, mas já viram Jennifer Connelly recentemente?

O outro ponto forte do filme é que Cruise, como produtor, e Kosinski, como diretor, colocaram atores de verdade dentro de aviões de verdade e filmaram seus voos de verdade. A diferença das sequencias de ação deste filme e da maioria composta exclusivamente por efeitos especiais é radical e de fácil visualização. A maneira como os corpos e os rostos destes atores se comportam não se replica com facilidade. Por isso, as sequencias de voo do filme não devem ser explicadas, mas vistas – e numa telona de cinema.

A melhor maneira de ser ver um filme continua sendo o cinema, e talvez por entender isso é que o filme, e seu mega ator/produtor foi tão reverenciado pelo Festival, uma instituição que também faz seu máximo para privilegiar a experiência da sala escura, com tela gigante.

Avaliação: Ótimo (4 estrelas)

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