Cannes: “The Silent Twins”, de Agnieszka Smoczynska
Atriz que ganhou projeção mundial com Pantera Negra apresenta drama psicológico sobre duas irmãs gêmeas.
atualizado
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Uma das funções da arte é expressar a interioridade da artista (ou da protagonista), de uma maneira além de meras palavras. “The Silent Twins”, portanto, tem uma missão a cumprir, pois é baseado na história real de duas irmãs gêmeas que nunca conversavam com ninguém exceto elas mesmas. O desafio é dobrado, portanto: exteriorizar a vida interna e emocional das duas, June (Letitia Wright) e Jennifer (Tamara Lawrance), e além disso contar esta história de maneira engajante.
June e Jennifer habitam um mundo cheio de palavras, brincadeiras e agressões, assim como todos os irmão e irmãs do planeta. Só que no caso delas, por alguma razão que ninguém saberá, elas levaram a conexão entre gêmeas às suas últimas consequencias, impossibilitando que qualquer outra pessoa, inclusive sua mãe, faça parte desta união. A diretora e sua roteirista montam este mundo lúdico com animação stop-motion e narração um off. Tudo bem enquanto as meninas são crianças, mas quando começa a adolescência, o mundo começa a ser inóspito demais para elas.
É uma metáfora interessante para uma reflexão sobre a inevitabilidade do tempo. Afinal, os hormônios estão prestes a impor suas vontades nas duas meninas que, apesar de causaram todo tipo de problema com seus professores, se interessam por um mesmo rapaz e, subsequente, em uma droguinha ou outra que ele tenha a oferecer. É a parte mais rica do filme. Enquanto o mundo das duas é estabelecido no primeiro ato, na infância, neste segundo ato, vemos elas tentarem uma vida menos enclausurada, só que ainda da maneira que exigem.
June, por exemplo, quer ser escritora, e as duas meninas eventualmente conseguem comprar por conta própria sua primeira máquina de escrever. O problema é que seu inconformismo e sua atração por Wayne (Jack Bandeira) resulta em um tantinho de criminalidade, cujo apogeu é incendiar um trator. Colhendo uma vida inteira de hostilidade com os outros e uma boa pitada de racismo, os tribunais condenam as irmãs para uma estadia sem saída num manicômio.
Assim como elas vão perdendo seu interesse pela vida, o filme começa a se degenerar, transformando-se de uma exploração sobre duas vidas únicas para um filme-condenação de um sistema de instituição forçada e de julgamentos aleatórios que acabam com June e Jennifer, sem que elas merecessem. Claro que, por se tratar de uma história real, não se torna justa a evasão dos fatos destas vidas. Mesmo assim, a miserabilidade do resultado final provavelmente vai impedir que muitos queiram assistí-lo.
Avaliação: Regular (2 estrelas)