Cannes: “The Meyerowitz Stories (New and Selected)”, de Noah Baumbach
História de uma família disfuncional com um elenco cheio de estrelas e em sua melhor forma, especialmente Dustin Hoffman e Adam Sandler
atualizado
Compartilhar notícia
Alguns diretores, ao anunciarem um novo projeto, já evocam previsões sobre o que se verá na obra. James Cameron incorpora efeitos especiais de última geração em todos os seus filmes. David Fincher explora sempre a patologia da violência. Quentin Tarantino usa e abusa de diálogos banais. Já Noah Baumbach, dirigindo desde 1995, sempre cutuca as famílias e o ennui da alta sociedade Nova-Iorquina. É uma corrente sobre-carregada, desde que Orson Welles filmou seu “Os Magníficos Ambersons” nos anos 40. Neste último exemplo, Baumbach descobre o que esse tipo de filme tem para oferecer, fazendo uma obra que se sobressai à média.
A família do escultor Harold Meyerowitz (Dustin Hoffman) se encontra em Nova Iorque para tentar emplacar uma mostra de sua obra artística. Os irmãos são Jean (Elizabeth Marvel), Danny (Adam Sandler) e Matthew (Ben Stiller). Além deles ainda contamos com a esposa hippie de Harold, vivida por Emma Thompson, e Eliza (Grace Van Patten), neta do escultor e filha de Danny, prestes a entrar na faculdade.
O segredo que ele encontrou para divertir com “The Meyerowitz Stories” é bem simples de identificar: escreva um roteiro que alterne humor com drama usando diálogos afiadíssimos e contrate um elenco de primeira para encená-lo, sempre cobrando destes seu melhor trabalho. Não existem surpresas ou reinvenções neste filme–todos os instantes da pouca trama que há são perfeitamente previsíveis, entre as crises, os rancores e as pequenas redenções que os integrantes de uma família disfuncional trocam entre si neste tipo de filme.
Todos estão na sua melhor forma. Dustin Hoffman não atua há anos, aparecendo em sets pra coletar um contracheque e entregar uma performance standard. Elizabeth Marvel é sempre excelente, mas não é conhecida do público (seu papel mais visto foi no seriado “House of Cards”). Ben Stiller e Emma Thompson se entregam à comédias e franquias bobas mais vezes do que deveriam. E, sem dúvida, a performance mais comentada será a de Sandler, que já na primeira cena exibe a melhor performance de sua carreira. Não chega a ser uma revelação, pois isso já ocorreu com “Embriagado de Amor”, filme de 2002.
Sandler investe a maior parte de sua carreira em comédias frívolas que não merecem sequer o rótulo de besteirol, agora distribuídas pelo Netflix. (“Meyerowitz” também foi produzido pelo canal de streaming.) Tomara que, no contrato que com Adam Sandler, saíam mais filmes como esse. No final das contas, o filme é dele, que interpreta um pai amoroso e fiel que abdicou de uma carreira artística para criar a filha. O relacionamento dos dois é o coração emocional do filme, e uma cena de fronte a um piano é uma das melhores do filme.
Agora que esta vai para a faculdade, Danny vira um metafórico cuidador do pai na 3a idade. Só que o pai o castiga pelo que acha ser a futilidade de sua vida, sem ambições artísticas. A ironia é que ele reclama do filho ao mesmo tempo que precisa dele, mas Harold é um pai tão ruim, que nem disso ele se toca. Baumbach consegue escrever personagens que, mesmo sendo pessoas ruins, nunca são fúteis. É por isso que este filme, de um gênero tão batido, ainda merece ser visto.
Avaliação: Bom (3 estrelas)