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Cannes: “Sorry We Missed You”, de Ken Loach

O diretor, ganhador de 2 Palmas de Ouro no passado, atualiza seus temas sobre os desafios da classe trabalhadora britânica.

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Festival de Cannes/Divulgação
Sorry We Missed You
1 de 1 Sorry We Missed You - Foto: Festival de Cannes/Divulgação

A tradicional família Turner, um marido, uma esposa, um filho adolescente e uma filha de dez anos, está prestes a tentar um caminho mais ambicioso na vida quando Ricky (Kris Hitchen) percebe que, no caminho que as coisas estão indo, eles nunca serão capazes de comprar a casa própria, condenados a pagar aluguel pelo resto de suas vidas. No mais novo filme de Ken Loach, não é um spoiler dizer que suas esperanças estão prestes a ser miseravelmente esmagadas pelo capitalismo.

Ricky tem feito bicos desde que foi demitido na última recessão e agora ele está prestes a se tornar um entregador, franqueado numa empresa de logística que trabalha para Gavin Mulroney (Ross Brewster), um homem de fala dura. Um brutamonte, calvo e musculoso, seu único interesse é manter a máquina da logística bem lubrificada e funcionando, enquanto encoraja seus funcionários a fazerem o seu melhor. Bem, eles não são exatamente funcionários, mas tecnicamente subcontratados e, portanto, fora do alcance de quaisquer benefícios sociais oriundos de um emprego.

A esposa de Ricky, Abbie (Debbie Honeywood), é uma enfermeira doméstica que passa seus dias correndo de paciente para paciente, cuidando de idosos e deficientes. No entanto, um financiamento na van de Ricky exigirá que ela venda seu carro, o único bem da família, num primeiro sinal das complicações que estão por vir. A mudança de Debbie para o transporte público fará com que seu tempo livre diminua e acabará com a capacidade da família de se locomover, um desastre para qualquer pai ou mãe de um adolescente.

Os dois filhos, Seb (Rhys Stone) e Lisa Jane (Katie Proctor), não poderiam ser mais opostos, mas isso pode ser apenas porque eles estão em diferentes estágios de desenvolvimento. Seb é um adolescente rebelde que foge da escola para pixar com seus amigos e Lisa é um prodígio, atenta e feliz de assumir o comando sempre que precisa. Lentamente descobrimos que são eles as maiores vítimas da luta de seus pais.

Loach está trabalhando em três frentes aqui. A primeira é a luta dos pais para ganhar mais dinheiro e reduzir suas dívidas, especialmente Ricky. Ele é constantemente pressionado para ssuir mais rotas, tentar ganhar mais dinheiro e é punido por atrasar entregas praticamente impossíveis. O esquema de franquias que ele entrou acaba parecendo cada vez mais uma fraude, extraindo mais e mais dinheiro dele quando deveria estar recompensando seus esforços.

A segunda camada é a natureza cíclica dessa luta. Com mais tempo no trabalho, resta menos para as crianças e essa ausência dos pais forma a luta emocional e o coração do filme. Não só as crianças ficam abandonadas, mas elas estão expostas a uma visão do mundo onde não importa realmente o quão duro ou por quanto tempo você trabalha, você nunca chegará a lugar nenhum. Não é de admirar que Seb seja totalmente sem ambição.

O terceiro tema é o retrato de Loach da sociedade britânica. Muitas manchetes atuais estão presentes no filme: o abandono dos idosos e sua subseqüente solidão, o negócio de entrega em expansão em um mundo de compras virtuais, a violência nas famílias da classe trabalhadora, o bullying na escola e até o fanaticismo no futebol britânico.

Também é interessante notar que, como em seu filme anterior, o ganhador da Palma de ouro “I, Daniel Blake”, os protagonistas da classe trabalhadora são certamente as multidões de pessoas que votaram em Donald Trump e pelo Brexit, constantemente criticadas pela mentalidade liberal que é decerto avaliará o filme e seu retrato destes personagens com louvor. O filme de Loach, rápido e comovente, é curto, mas profundo.

Avaliação: Ótimo

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