Cannes: “Roubaix, une Lumière”, de Arnaud Desplechin
Espécie de “Law & Order” francês não consegue navegar suas múltiplas narrativas de forma coerente.
atualizado
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Aquele som emblemático da série americana “Law & Order”, que emula o “clanc-clanc” de metal batendo em metal, deve ter ressoado bastante na cabeça do diretor francês Arnaud Desplechin enquanto ele dirigia seu novo filme. Daoud (Roschdy Zem), é um comissário de polícia experiente e sábio, responsável pela lei e ordem de uma cidade arrasada por atrasos econômicos. Sua ascendência árabe permite que ele navegue todo tipo de rede cultural da população, e ele e seu time, que inclui um novato (sempre) são expostos a crimes pequenos e grandes, em um dia típico.
Alguns dos casos podem até ser divertidos–como o incêndio “acidental” de um carro–enquanto outros são brutais, como um estupro. As descobertas destas investigações porém, sempre servem para refletir o desespero econômico dos suspeitos e interrogados. Roubaix, a cidade, é um deserto de esperança, com pessoas largadas pela modernidade, sem redes de proteção.
Duas destas pessoas são Claude (Léa Seydoux) e Marie (Sara Forestier), duas mulheres que moram juntos e cuidam de suas crianças. Testemunhas de um caso de incêndio criminosos, o novato Louis (Antoine Reinartz) e Daoud, logo começam a ligar as andanças das duas como a morte de uma senhora idosa. Daoud, na verdade, tem algo parecido com um super-poder. Ele sabe quem é culpado e quem é inocente desde o primeiro olhar.
A maior parte do drama se dá com o interrogatório que a polícia exerce sobre os suspeitos. Porém, é a parte mais estafante do filme. A técnica da polícia de “cansar” suspeitos, mantendo-os em salas de interrogatório por um tempo sem fim e repetindo perguntas até as respostas soarem diferentes. Só que o que Desplechin faz é submeter o espectador ao mesmo tratamento, enfadonho.
O pequeno caso mais interessante da trama envolve uma adolescente, de ascendência imigrante, que fugiu. É com ela que o comissário Daoud tem uma perspectiva única para conversa, e são os valores e a cultura que fez ela tomar esta decisão que é um fator interessante do filme. Pena que os outros casos não tem o mesmo brilho.
O elenco é a parte mais forte do filme, assim como em episódios seriais da série americana, atores renomados e desconhecidos se misturam, vivendo personagens excêntricos e interessantes. Ao querer abrir o leque narrativo para inclusão de muitos deles, Desplechin não consegue manter a narrativa ágil ou propulsivo. Cenas que deveriam ser contemplativas ficam chatas em comparação.
Avaliação: Regular (2 estrelas)