Cannes: “Rocketman”, de Dexter Fletcher
Após o sucesso mundial de Bohemian Rhapsody, é a vez da história de Elton John chegar às telas.
atualizado
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Sucesso gera filhotes na economia Hollywoodiana, e o estouro global que foi “Bohemian Rhapsody“, biografia musical sobre Freddie Mercury e a banda Queen colocou nos trilhos vários projetos musicais que circulavam em banho-maria. O primeiro a sair é sobre o início de carreira de Elton John, um dos maiores astros do pop mundial, reverenciado no mundo todo com uma carreira que dura décadas, e que ainda está vivo para contar sua história.
Como já faz parte do gênero, uma infância infeliz é a explicação pseudo-pop para o fenômeno que ainda está por vir. Reginald Dwight (Matthew Illesley) é a criança gordinha que carece de amor em uma família de classe média baixa do interior inglês que simplesmente não cultiva amor. O pai (Steven Mackintosh), veterano de guerra, existe num estado perpétuo de recuperação pós-traumática (sem diagnóstico, na época, a maioria dos soldados que voltaram do front tinham que engolir seus traumas sozinhos, ou com a ajuda de outros vícios). A mãe (Bryce Dallas Howard), vive numa fantasia de sua própria criação, aonde está destinada a ser fabulosa, mesmo que não faça nada de concreto para isso. É só a avó de Reginald, (Gemma Jones) que reconhece o talento inato da criança para música, e o encoraja a ponto dele virar Elton John (Taron Egerton).
O resto da trama é completamente previsível: o encanto pela música e o encontro subsequente com um parceiro e colaborador, Bernie Taupin (Jamie Bell); a composição do primeiro hit, que o tornará um sucesso (aqui é a música “Your Song”); o momento em que a pureza artística é monetizada por um empresário de sucesso, John Reid (Richard Madden); o inevitável declínio via sexo e drogas que aliena o astro de sua família e de seus amigos e, finalmente, uma chance de atingir a redenção.
Se isto parecer demais com “Bohemian Rhapsody”, bem… O biopic musical nunca foi de reinventar narrativas, ou mesmo de explorá-las de uma forma criativa (com a exceção do excelente “I’m Not There”, de Todd Haynes, sobre Bob Dylan). Em uma reviravolta do destino, o diretor Dexter Fletcher é o mesmo que terminou o filme sobre Freddy Mercury depois que seu diretor original, Bryan Singer, foi demitido. “Rocketman” difere em seu marketing ao fazer propaganda de ser um filme para adultos, com faixa etária para maiores de idade. Não passa de enganação–sim, o filme mostra o uso de drogas e contém cenas de sexo entre dois homens–tudo sanitizado e sem correr risco algum, a não ser que o espectador ache que John sempre foi um coroinha de igreja.
O próprio Elton John é um produtor do filme, o que já indica que não se trata aqui de um filme com independência criativa. Existe porém, uma luz criativa no clichê desta produção: suas cenas musicais. Usando clássicos de carreira de John, Fletcher não situa o uso das músicas em performances do personagem. Ele adequa situações da vida do artista para refletirem as letras de suas músicas. Estas sequencias não estão aqui para marcar pontos e épocas da história, mas sim para contar a própria história. São elas a razão para assistir a este filme.
Avaliação: Regular (2 estrelas)