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Cannes: “Mektoub, My Love: Intermezzo”, de Abdellatif Kechiche

Festival de corpos se bronzeando e dançando parece existir em um universo paralelo.

atualizado

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Festival de Cannes/Divulgação
Mektoub My Love
1 de 1 Mektoub My Love - Foto: Festival de Cannes/Divulgação

Para quem achou a maneira com a qual Abdellatif Kechiche filmou corpos femininos em seu filme ganhador da Palma de Ouro, “Azul é a Cor Mais Quente”, o aviso é forte: evite este novo filme a todo preço! Aqui, o diretor narra um dia e uma noite na vida de um grupo de amigos e amigas franceses (porém de descendência árabe) junto com uma estrangeira. No começo do filme, todos se encontram numa praia, ao pôr do sol, brincam e combinam de se encontrarem numa boate.

Amin (Shaïn Boumedine), é o menino galã de quem todas estão a fim. Ophélie (Ophélie Bau) é sua ex-namorada, que agora tem um caso meio escondido com Tony (Salim Kechiouche) enquanto seu noivo está em uma campanha do exército em algum outro país. Ela é a líder indomável do grupo, mas um outro segredo que esconde está prestes a fazê-la perder sua juventude.

Esta é a metáfora que poderia explicar o hedonismo explicitado no filme. A conversão de adolescência para a vida adulta é uma temática rica, mas o fato da palavra “intermezzo” estar no título do filme já indica que ele não é uma histórica completa. A narrativa não satisfaz. Aqui os personagens estão numa espécie de purgatório existencial, entre um filme e outro. Sabe aquela piada de que, se soubermos que não temos mais perspectivas, todos entraremos numa incrível orgia? É isto que Kechiche está mostrando. Com um olhar demasiadamente sem balanço. A exploração visual dos personagens homens e das personagens mulheres é completamente desequilibrada.

Devo começar pelo que Kechiche faz bem. Ele consegue nutrir atuações impecáveis e naturalistas das pessoas que escolhe para seus filmes. É difícil acreditar que as pessoas que ele põe na tela estão de fato atuando, mesmo no caso de Léa Seydoux, em “Azul é a Cor Mais Quente”. A impressão é que estamos vendo pessoas reais, levando suas vidas adiante. Isso não é fácil–atores passam anos estudando interpretação e vários são incapazes de atuar bem. Interpretar a si mesmo, o que parece ser o caso dos jovens deste filme, também é difícil.

É o filme mais arthouse da mostra competitiva até agora, uma experimentação narrativa e imagética de obsessão pelo corpo feminino e seus usos adolescentes. Na ausência de histórias, e com o drama condensado em pinceladas mínimas, somados à duração exagerada, o filme será perdido na história cinematográfica, renegado pelo seu mau gosto masculino.

Avaliação: Regular (2 estrelas)

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