Cannes: “Marcel!”, de Jasmine Trinca
As fábulas, rodeadas por vizualizações oníricas, muitas vezes escondem correntes de tristeza e melancolia.
atualizado
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Se cada família tem aquele membro um pouco mais biruta do que o resto da humanidade, como será a vida dessa pessoa? Infelizmente, para a menina (Maayane Conti) essa pessoa é sua mãe (Alba Rohrwacher). As duas passam os dias pelos bairros ensolarados de Roma como artistas de rua, encenando uma pequena peça aonde o cachorro das duas (o Marcel do título) foge e depois retorna. Final feliz! Pelo menos para o cachorro.
Um dia Marcel foge de verdade, e tensão entre Mãe e Filha se eleva. Mãe, afinal de contas, apresenta muito mais carinho, cuidado e emoção com o canino do que com a menina. A Mãe, aliás, fala pouco (seu personagem é, sem dúvida, uma homenagem ao cinema mudo e artistas como Chaplin e Marcel Marceau), e uma da frases que repete é que “devemos nossa vida à arte”. É um sentimento bonito, mas de adianta quando a geladeira está vazia e sua mãe não cuida de você? É a Filha que faz as compras e arruma a casa. Apesar de tocar saxofone, sua mãe recusa qualquer participação em conjunto.
Outra personagem importante é a Avó (nenhum dos personagens tem nome, exceto o cachorrinho). Inconformada com a morte do filho (pai da Filha), ela jura que ele está sempre vendo a família. O que ocorre em “Marcel!” também, parece ser uma homenagem ao universo de Federico Fellini, com tantos personagens exagerados, porém humanos.
Eventualmente, Mãe e Filha entram numa road-trip para um festival de performance de arte, e são obrigadas a se hospedar na casa de uma irmã da mãe, que vive bem e abastada. Conversas durante o jantar revelam um certo desprezo pelo modo de vida da artista, e é neste enfrentamento que a Filha começa a ver o ponto de vista da mãe.
“Marcel!” tem um charme italiano e cinematográfico, mas peca por um ritmo lento e desorganizado.
Avaliação: Bom (3 estrelas)