Cannes: “Little Joe”, de Jessica Hausner
Filme bem composto em seu olhar técnico não sabe o que quer fazer em seu roteiro.
atualizado
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Um laboratório repleto de flores, vermelhas e aparentemente inofensivas, é uma imagem cheia de possibilidades, marcante em um filme de ficção científica. Este, porém, é um filme que explora esta imagem em várias dimensões, só que nenhuma delas em uma maneira satisfatória. A flor, chamada de “Little Joe” por sua criadora Alice (Emily Beecham), é um remédio. Ao ser acolhida e bem tratada, a planta exala feromônios que tem efeitos anti-depressivos em seres humanos.
Uma das ideias mais básicas é este relacionamento entre homem, tecnologia e natureza. A existência desta planta, e o fato da maioria de nossos medicamentos virem do que está ao nosso redor, elementos naturais extraídos e manipulados quimicamente, talvez até como perversão. Se fizermos um paralelo entre Alice, que criou a flor, e o Dr. Frankenstein, que criou seu próprio homem, a metáfora está completa. Só que esta vertente está batida, e o filme ainda explora outras.
Alice leva uma das plantas pra casa, de presente pro seu filho, Joe (Kit Connor), que inspirou o nome deste “segundo filho”. O efeito, porém, traz algo a mais. Joe fica hipnotizado pela planta, e vai ficando distante do mundo. Um colega de trabalho de Alice, Chris (Ben Whishaw), também começa a apresentar sintomas de alienação. Ao convidá-la para um date, não consegue manter uma conversa com ela ou criar uma conexão durável.
O que Alice consegue fazer com sua planta, na verdade, é transformar todas as pessoas que ficam expostas à ela em seres um pouco alienados, distantes das coisas emocionalmente. Fazer com que fiquem um pouco mais como ela, na verdade. Nem este ponto final é satisfatório, pois a história que resulta é algo estéril num mundo cheio de cor.
Avaliação: Ruim (1 estrela)