Cannes: “Heonteu”, de Lee Jung-Jae
Nem se preocupe em seguir a trama rocambolesca e sem sentido–aqui a ação rima com diversão
atualizado
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O veterano ator coreano Lee Jung-jae, astro do mega-hit da Netflix “Round 6”, parece ter aprendido uma lição importante com essa experiência: qualquer defeito num thriller pode ser subsidiado pela boa vontade gerada com sequencias de alta tensão. Em seu primeiro filme como diretor, ele estabelece um enredo perfeito para isso, pois se trata de um jogo de gato-e-rato entre dois espiões na Coreia do Sul. Ambientado na década de 80, o país vive um regime autoritário assim como uma rivalidade perigosa com a Coreia do Norte.
A montanha russa do diretor já começa nos primeiros minutos, em uma viagem do presidente sul-coreano para Washington. Park Pyong-ho (Lee Jung-jae) e Kim Jung-do (Jung Woo-sung) são diretores poderosos na Agência de Inteligência de seu país, e ambos põe suas vidas em risco durante uma tentativa de assassinato ao líder do país. A situação é quase um desastre, com tiroteio e morte (para o espectador, porém, é uma sequencia majestosa), até que Park consegue matar o suspeito. Kim, por seu lado, queria o criminoso vivo, pois o que acaba de ficar evidente é que um agente da Coreia do Norte está infiltrado entre eles.
O roteiro mistura história com ficção de uma maneira enganosa. Em 1983, a Coreia do Sul está em convulsão, com contínuos protestos pedindo democracia e muita diplomacia com países vizinhos, especialmente o Japão. A trama, aliás, tem destino certo em uma reunião diplomática entre Coreia do Sul e Japão situada na Tailândia. Poderia ser real, se Lee quisesse montar uma trama ficcional que ocorresse em segredo, entre espiões, mas as reviravoltas e os acontecimentos são tão explosivos que qualquer semelhança com o real deve logo ser descartada.
O agente Kim logo começa a desconfiar de Park, e ambos recebem a missão de encontrar o infiltrado. Será Kim? Park? Os dois? Nenhum? O roteiro nos deixa em dúvida o máximo possível, embora seja repleto de tensão. A ação é constante, e bem feita. Este é o maior feito de Lee como diretor, uma aceleração constante rumo ao desfecho final. Servirá bem a fãs do cinema oriental de ação. Os dois atores principais estão ótimos.
O que impede o filme de se tornar um clássico é a confusão narrativa que ocorre com tantas reviravoltas. É difícil manter a coesão mental e seguir os detalhes de quem fez o que, de quem sabe o que, e de quem pode ser o quê. É como aproveitar uma montanha russa sem se preocupar tanto com as leis da física.
Avaliação: Regular (2 estrelas)