Cannes: “Frère et Soeur”, de Arnaud Desplechin
Mais um drama familiar que não ousa o suficiente para ser interessante
atualizado
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Arnaud Desplechin é figurinha carimbada no cinema francês e no Festival de Cannes. Seu cinema também contém muito do que sua cinegrafia nacional propõe, filmes de relacionamentos, aonde adultos capazes conversam por duas horas a fim de resolver seus conflitos na base do diálogo. Dramas familiares são o métier de Desplechin, e aqui ele apresenta Marion Cotillard e Melvil Poupaud como Alice e Louis, irmãos que mal conversaram por vinte anos, mas que agora tem de lidar com a morte próxima de seus pais.
Em uma das melhores sequencias de sua carreira, os idosos Abel (Joël Cudennec) e Marie-Louise (Nicolette Picheral) tentam ajudar uma jovem acidentada em uma rua campestre, mas a situação vira um desastre onde a menina morre e os dois entram em coma. É uma situação agonizante, mas cujo resultado pode ser a reparação do relacionamento entre Alice e Louis. Louis, aliás, parece querer isto, mas Alice o repele com um ódio inexplicável. Ambos sofrem efeitos psicossomáticos quando se encontram, e Desplechin parece ir no rumo de uma explosão catártica.
Infelizmente, o roteiro está mais interessado em enrolar em volta do conflitos destes personagens do que lidar com ele de frente. Louis é um poeta, e Alice uma atriz de cinema e teatro, o ambiente artístico que habitam deveria equipá-los com as ferramentas emocionais necessárias para esta trama, mas ambos parecem mais crianças mimadas absortas em si mesmo. Esse tipo de personagem não é mais tão interessante no panorama do cinema mundial, ou mesmo francês, que hoje abarca uma diversidade maior de experiências.
Muita coisa interessante rodea os personagens. Alice está ensaiando uma adaptação teatral de um conto de James Joyce chamado “Os Mortos”, cujos temas ressoam nesta trama. Louis casou e teve um filho, subsequentemente morto de maneira trágica. Ambos consumem drogas em momentos difíceis–Louis as ilegais, e ALice as farmacêuticas. Personagens cômicos como o amigo judeu de Louis (Patrick Timsit) e uma fã empobrecida de Alice (Cosmina Stratan) habitam a tela mas pouco fazem.
O que poderia causar uma escalada de ódio entre irmãos que dure 20 anos? Poucas ideias são esclarecedoras, mas uma cena tardia indica uma insinuação incestuosa que, se assumida, poderia guiar o filme em uma direção ousada e, no mínimo, interessante. Só que Deplechin não se interessa por isso, apenas na imediação dos umbigos de seus personagens desinteressantes.
Avaliação: Ruim (1 estrela)