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Black Rio! Black Power! revive esperança dos bailes soul dos anos 1970

Em entrevista ao Metrópoles, o elenco do filme abordou a importância do movimento Black Rio na cultura e na luta por justiça racial

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Black Rio Black Power
1 de 1 Black Rio Black Power - Foto: @mmourajoao

O documentário Black Rio! Black Power!, que estreia dia 5 de setembro nos cinemas, aborda a influência do movimento cultural e político Black Rio na sociedade e nos processos de luta por justiça racial na década de 1970. A iniciativa realizava bailes soul, no Rio de Janeiro, como resposta à opressão racial e social que a população negra sofria na época. Os eventos eram populares por serem um espaço para que a comunidade negra pudesse se orgulhar de sua cor e enfrentar o racismo diário no Brasil.

Dom Filó, líder do movimento nos anos 1970 e protagonista do filme documental, ressaltou, em entrevista ao Metrópoles, a importância de ter registros do Black Rio! Black Power! sendo exibidos atualmente, nos cinemas.

“A sociedade brasileira sempre viveu um apagamento, em especial da comunidade negra. Foi algo proposital. Então, vejo esse filme como parte da história pública desse país. É memória. É uma contribuição fantástica, tem um papel muito importante, e vai fazer com que outras pessoas busquem algo semelhante. Esse filme é uma referência”, afirmou o produtor cultural.

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Personagens do documentário Black Rio! Black Power! com o diretor Emílio Domingos (no centro, de azul)
Dom Filó, líder do movimento Black Rio nos anso 1970, e Emílio Domingos, diretor do documentário
Imagens dos bailes soul na época do Black Rio, nos anos 1970
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Imagens dos bailes soul na época do Black Rio, nos anos 1970

Divulgação/ Arquivo / Agência O Globo
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Personagens do documentário Black Rio! Black Power! com o diretor Emílio Domingos (no centro, de azul)

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Dom Filó, líder do movimento Black Rio nos anso 1970, e Emílio Domingos, diretor do documentário

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Imagens dos bailes soul na época do Black Rio, nos anos 1970

Divulgação/ Arquivo / Agência O Globo

O filme é dirigido por Emílio Domingos e produzido por Leticia Monte. A produção conta com imagens de arquivo dos bailes da icônica equipe de som Soul Grand Prix, formada por jovens negros dos subúrbios do Rio de Janeiro, e com depoimentos de vários personagens que fizeram parte do icônico movimento difundido no Rio de Janeiro nos anos 1970.

Diretor do filme e pesquisador, Emílio ressaltou a importância de reviver os registros para entender a atual conjuntura do Brasil: “O filme busca ouvir as pessoas que viveram e fizeram o Black Rio acontecer. É fundamental que boa parte da população brasileira, principalmente a nova geração, conheça a sua própria história. O Black Rio foi muito grande e ajuda a entender o Brasil contemporâneo.”

Black Rio! Black Power!: registros, pesquisas e cinema

“É sempre um desafio fazer filme de época no Brasil. Particularmente nessa história, por ser periférica, underground e suburbana, tivemos ainda mais dificuldade.”

Letícia Monte

A história do documentário foi construída, principalmente, a partir de resgates de materiais da época que eram feitos nos bailes de soul, como conta Dom Filó. “A minha geração foi a que deu um start e começou a registrar as ações feitas, mas não foi nada arquitetado, pensando no futuro. Aconteceu naturalmente, de forma ancestral”, explicou.

Emílio Domingos, que passou 10 anos realizando pesquisas para o filme, reforça que o material para a produção do documentário era escasso. “Os bailes soul eram uma história oral. Haviam poucos documentos e textos sobre o assunto. Tinham algumas matérias de jornal, mas eram todas críticas ao Black Rio, que sofreu uma grande perseguição nos anos 1970.”

A produtora Letícia Monte, responsável por organizar o documentário, explicou o que foi feito para resgatar as imagens presentes sobre o movimento soul.

“Precisávamos ilustrar a história, para além da oralidade. Tivemos a sorte de ter alguns poucos fotógrafos que trabalhavam para veículos de imprensa e registraram muito bem esse fenômeno. Além disso, também fizemos uma pesquisa fora do Brasil e conseguimos imagens em movimento de uma televisão alemã e contamos com o acervo pessoal dos personagens”, detalhou.

Documentário premiado

Black Rio! Black Power! participou de 24 festivais nacionais e internacionais antes da estreia oficial nos cinemas e conquistou oito prêmios. Além do Brasil, o filme foi exibido em países como Austrália, Colômbia, Estados Unidos, Madagascar, Reino Unido, Uruguai e Quênia.

O filme revela o impacto dos bailes soul e do movimento Black Rio na música, na cultura e na luta por justiça racial no Brasil dos anos 1970. Personagens como o citado Dom Filó, o escritor Carlos Alberto Medeiros, os músicos Carlos Dafé e Marquinhos de Oswaldo Cruz, e Rômulo Costa e Virgilane Dutra (da equipe Furacão 2000) dão o tom da produção com fortes depoimentos.

Questionado sobre um possível boicote ao filme por se tratar de uma temática social e política, Emílio Domingos afirmou que não teme retaliações: “É um projeto autoral que surgiu em 2012. Faço filmes para enaltecer e afirmar a cultura negra e, muitas vezes, a arte consegue sobrepor as questões ideológicas. Acho que até os mais radicais vão se render a força do Black Rio”.

Avanços da comunidade negra

“A gente conseguiu crescer, mas ainda falta. De qualquer forma, eu saio dessa cena feliz por ter deixado minha contribuição e sempre dançando, balançando”

Dom Filó

Durante a entrevista ao Metrópoles sobre o lançamento do documentário, Dom Filó, idealizador do movimento Black Rio, fez questão de falar sobre os avanços da comunidade negra dentro do contexto do filme.

“O movimento black foi disruptivo. Depois disso, a única disrupção da comunidade negra foram as cotas, mas é um outro âmbito. Naquela época, usamos a música, o comportamento, a estética e o afeto para construir uma identidade e pertencimento. Esse filme é um legado de esperança, em que som imagem e narrativa determinam o que vivemos e o que podemos ter lá na frente.”

Dom Filó, que também é engenheiro civil, jornalista e documentarista, acredita que o legado está posto com o Black Rio! Black Power!, mas ainda vê necessidade de avanço dos negros na sociedade atual.

“Estou orgulhoso. Acredito que precisamos revisitar o passado, trazer para o presente e ressignificar pensando no futuro. Precisamos trabalhar em cima disso. Existe um avanço, sim, da comunidade negra. É um fato. Agora, como diz Mano Brown, é muito mas é pouco”, iniciou.

“Eu sinto que a aderência dos negros está fraca. Estamos tendo avanços, mas as resistências que existiam no passado estão escancaradas. O esforço individual e coletivo da comunidade negra tem que ser muito maior.  Temos nossas próprias narrativas, contamos nossas histórias, estamos ocupando mais lugares, mas não estamos com muita presença nas posições de poder”, finalizou.

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