Beth Carvalho: vida e carreira musical são exaltadas em documentário
Em filme de Pedro Bronz, produzido com antigas gravações feitas por Beth Carvalho, a cantora é tratada como divindade do samba
atualizado
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Beth Carvalho teve um antigo acervo de gravações revisitado por Pedro Bronz e transformado no documentário Andança – Os Encontros e as Memórias de Beth Carvalho. O filme estreia nos cinemas nesta quinta-feira (2/1), e traz um recorte único da vida e da carreira da cantora.
No longa-metragem, a trajetória artística da Madrinha do Samba é explorada de diversas formas, mas, principalmente, na parte musical. Logo no início, a “cineasta” Beth Carvalho, como é chamada por amigos, mostra as suas influências. De João Gilberto a Clementina de Jesus, desenvolve as raízes sonoras.
“Fiquei encantada com João Gilberto porque ele correspondia aquilo que eu achava. Achava que cantar não era só impostar a voz. Eu estou conversando com você aqui e quero cantar da mesma forma que eu estou falando, sem impostação de voz, e o João trouxe isso na forma de cantar. Além disso, o violão dele realmente me fascinou e me deu vontade de aprender”, conta Beth em parte do documentário.
A cantora também explica a importante transição da bossa nova para o samba. O movimento, mesmo que em um período inicial de carreira, transformou a vida de Beth Carvalho.
“Comecei a aprender os instrumentos vendo as pessoas tocarem e aprendi muito sobre a parte harmônica nos encontros de bossa nova, mas eu sempre tive relação com o samba. Comecei a frequentar o Morro do Salgueiro, que abriu as portas para a classe média. Ficava irritada com o elitismo da reunião da Bossa Nova. Musicalmente era bom, mas o comportamento era elitista”, afirma a sambista no filme.
Culto ao samba
O documentário roteirizado pelos cineastas Pedro Bronz e Leonardo Bruno, em conjunto com Beth Carvalho, é um verdadeiro culto ao samba, no qual a cantora é uma das entidades. O templo, bem exemplificado nas gravações, é o Cacique de Ramos.
“O samba é uma manifestação popular. É a cultura popular vencendo todas as barreiras desse Brasil. O samba sempre vai existir.”, disse Beth Carvalho em 1986.
Grandes artistas do gênero como Nelson Cavaquinho, Zeca Pagodinho, Monarco, Cartola, Dudu Nobre, Arlindo Cruz, Alcione, Sombrinha, Gordinho, Jorge Aragão e muitos outros são apresentados no filme. Muitos, ainda, em início de carreira, exalando juventude.
Beth Carvalho, conhecidamente uma pessoa de classe média, foi uma das responsáveis pela descoberta e pelo sucesso de vários desses artistas. Em trecho do documentário, um jornalista afirma, durante entrevista, que ela foi “a maior responsável pela divulgação do pagode”.
Complementa, em seguida, dizendo que a artista “trouxe o pagode do alto do morro para os estúdios de gravação de discos no asfalto”. As falas são representativas e mostram a importância da cantora para o movimento samba.
Participação política
O filme Andança – Os Encontros e as Memórias de Beth Carvalho faz questão de mostrar que o samba é, para além de um estilo musical, um movimento social, racial, do povo e politicamente de esquerda.
Nas gravações, a cantora se encontra com Fidel Castro, discursa durante o movimento político de Diretas Já (1983-1984) e ressalta, por vezes, a importância da negritude nas músicas brasileiras.
Além disso, aparece pedindo pela redemocratização durante improvisação de um samba. Acompanhada por amigos, exalta as referências de outros sambistas pelo direito ao voto e as citações diretas a Leonel Brizola e Luiz Inácio Lula da Silva, figuras reconhecidas por trabalhos e políticas sociais e raciais para o povo brasileiro.