Alunas da UnB produzem curta-manifesto contra a cultura do estupro
A equipe de “Lilith” é formada por 28 alunas. Neste sábado encerra o prazo do financiamento coletivo para bancar os custos da produção
atualizado
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A jovem Morgana, de 23 anos, foi estuprada e precisa passar por todas as etapas burocráticas necessárias para o caso: hospital, IML e o contato com o agressor. Cansada da falta de amparo da polícia e de alguns conhecidos, ela pede ajuda para as amigas.
O intrigante da história é que essas mulheres são bruxas e utilizam do seu poder sobrenatural para encontrar justiça. Esse é o enredo do curta-metragem “Lilith”, um filme-manifesto desenvolvido por estudantes de audiovisual da Universidade de Brasília (UnB).
Com uma equipe composta apenas por mulheres, a trama levanta questões como feminismo, cultura do estupro, racismo e sororidade. São 28 mulheres, entre 19 e 26 anos, que trabalham juntas desde o roteiro até a pós-produção e divulgação do trabalho.
Casos de violência
Ao pensar a história, a roteirista e diretora Patrícia Nascimento se inspirou nos casos de violência noticiados nos últimos meses. “Pensei no assassinato da estudante Louise Ribeiro e no estupro coletivo da jovem do Rio de Janeiro”, conta Patrícia.
A incorporação do imaginário da bruxa foi utilizado como forma de expressar o empoderamento feminino. “A bruxa traz a mensagem da emancipação. Desde a Inquisição, quando foram perseguidas, mulheres empoderadas e que tinham algum tipo de independência e inteligência eram mortas por serem quem são”, explica a diretora.
As personagens trarão à tona problemas que envolvem diretamente as mulheres. “A desconfiança e culpabilidade da vítima de estupro, o medo, são questões que todas sofremos”, afirma Patrícia.
Um estupro a cada 11 minutos
De acordo com dados de 2014 da Secretaria de Segurança Pública, o Brasil tinha um caso de estupro notificado a cada 11 minutos. Como apenas de 30% a 35% dos casos são registrados, é possível que a relação seja de um estupro a cada minuto. Segundo o Ipea (2013), 89% das vítimas de estupro no país são mulheres.
Mesmo sendo minoria no cenário audiovisual, ter somente mulheres na equipe é uma maneira de dar voz e fazer com que elas falem com propriedade do que mais as aflige. “A maior lição com a gravação deste curta é que as mulheres podem fazer cinema. Existe um empoderamento da equipe e superamos as crises do processo de criação juntas, com apoio psicológico e empatia de se colocar uma no lugar da outra”, relata Patrícia.
O filme é fruto de uma disciplina do curso de audiovisual da UnB e está em processo de gravação desde o dia 10 de outubro. Para pagar os gastos, o grupo lançou um campanha de financiamento coletivo na internet e visam arrecadar R$ 4.500 até este sábado (22/10).
Segundo a diretora Patrícia Nascimento, o dinheiro arrecadado será usado para pagar o elenco e cobrir parte das despesas de edição e distribuição. Para contribuir, basta acessar a página do Lilith no Benfeitoria e escolher o valor a ser doado e a recompensa.