Ainda Estou Aqui: quem foi Rubens Paiva, engenheiro morto na ditadura
Rubens Paiva terá sua história retratada no filme Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, que chega aos cinemas nesta quinta (7/11)
atualizado
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O ex-deputado e engenheiro Rubens Paiva terá sua história contada no filme Ainda Estou Aqui, longa-metragem de Walter Salles inspirado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, filho do político. Ele nunca mais foi visto após ser levado para prestar depoimento em 1971, período da ditadura militar.
Rubens Beyrodt Paiva, nascido em 26 de dezembro de 1929 em Santos, São Paulo, se casou com Maria Lucrécia Eunice Facciola e teve cinco filhos com ela: Vera Sílvia Facciolla Paiva, Maria Eliana Facciolla Paiva, Ana Lúcia Facciolla Paiva, Maria Beatriz Facciolla Paiva e Marcelo Rubens Paiva.
A carreira política de Paiva teve início em 1962, quando foi eleito deputado federal por São Paulo pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Durante a ditadura militar, Paiva se tornou um símbolo de resistência contra o regime antidemocrático e chegou a confrontar publicamente o então governador paulista, Ademar de Barros, que apoiava o golpe.
Paiva também integrou a CPI destinada a investigar as atividades do IPES-IBAD, instituições acusadas de financiar palestras e artigos que alertavam para a chamada “ameaça vermelha” no Brasil. Essa atuação custou-lhe o mandato, que foi cassado em abril de 1964.
Rubens Paiva se exilou na Iugoslávia, na França e em Buenos Aires após ter o mandato cassado. Ele retornou ao Brasil e sua família deixou São Paulo para morar no Rio de Janeiro. O patriarca da família Paiva não voltou a trabalhar com a política, mas manteve contato com exilados enquanto seguia a carreira como engenheiro.
Prisão e morte de Rubens Paiva
Em 1969, Rubens Paiva viajou ao Chile para prestar auxílio a Helena Bocayuva Cunha, que estava exilada após se envolver no sequestro do embaixador Charles Burke Elbrick. Algum tempo depois, pessoas que portavam cartas de Helena para o ex-deputado foram detidas, e Paiva acabou sendo vinculado a Carlos Alberto Muniz, que, por sua vez, tinha ligações com Carlos Lamarca, o homem mais procurado do país na época.
Em 20 de janeiro de 1971, seis homens invadiram a casa de Rubens no Rio de Janeiro fortemente armados e levaram o político para prestar depoimento. Eunice, esposa de Paiva, e Eliana, filha do casal, foram presas no dia seguinte.
Rubens foi torturado e morto no Destacamento de Operações Internas (DOI), no quartel da Polícia do Exército. Segundo Amílcar Lobo, médico do DOI, Paiva morreu devido aos ferimentos sofridos em sessões de tortura. Na época, os órgãos oficiais alegaram que Paiva havia fugido durante transferência de prisão e nunca mais fora encontrado.
Eunice Paiva, liberada depois de 12 dias presa no DOI, passou a brigar para que o desaparecimento do marido fosse investigado. Somente em 2014 foi revelado que a fuga de Rubens havia sido inventada pelo ex-major Raimundo Ronaldo Campos e outros dois companheiros.
Em 1996, depois da sanção da Lei dos Desaparecidos pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, foi emitido o atestado de óbito do ex-deputado, ficando assim reconhecida oficialmente a sua morte. O corpo nunca foi encontrado.
Busca por justiça
José Antônio Nogueira Belham, que comandava o Destacamento de Operações de Informações do 1º Exército (DOI-I); Raimundo Ronaldo Campos, que admitiu ter montado uma farsa para forjar a fuga do ex-deputado; e os ex-sargentos Jacy e Jurandyr Ochsendorf, envolvidos na fraude da fuga de Paiva, foram denunciados formalmente em 2014 pela morte do ex-deputado.
Os réus são acusados de homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver, associação criminosa e fraude processual. Ninguém foi preso até então.
Em abril deste ano, o Conselho Nacional dos Direitos Humanos anunciou a reabertura da investigação sobre o assassinato do ex-deputado Rubens Paiva.