A evolução do terror: entenda como o passado dita o cinema de horror atual
Monstros, demônios, psicopatas… veja como gênero uniu antigas ideias a novos debates para fazer sucesso
atualizado
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Freddy Krueger, Jason, Hellraiser, Annabelle… por mais que o desejo de algumas pessoas seja passar bem longe dos cinemas ou da televisão quando alguma produção de terror está em cartaz, certamente muitos deles já ouviram falar o nome destes personagens em algum momento. O gênero, que costuma dividir a opinião do público, é bastante lembrado com a chegada do Halloween e o cinema tem papel essencial para construção da temática que envolve esta data.
A sensação de estranheza, medo, desordem e fragmentação da realidade, onde os personagens de alguma forma se encontram em uma situação de risco são alguns dos elementos que fazem parte das tramas de horror. Da década de 1930, com os primeiros longas, em sua maioria de monstros como Drácula e Frankenstein, aos demônios de Invocação do Mal e o terror psicológico de Hereditário e A Bruxa, o horror tem buscado inspiração em sua própria trajetória, somando novos debates, para fazer sucesso.
“Historicamente, o horror sempre responde às inquietações do seu tempo, seja ele do presente ou o passado. Algumas questões passam a ser novas quando as discussões começaram a aparecer em torno desses assuntos e, naturalmente, elas são levadas para os filmes. O terror sempre olha ao seu redor e responde essas perguntas através de suas características”, explica Marcelo Miranda, crítico, pesquisador de cinema e apresentador do podcast focado em horror Saco de Ossos.
Além disso, como no cinema em geral, a “linha do tempo” do gênero terror por muitas vezes se confunde em meio aos remakes e reboots, mas alguns períodos marcaram época e vieram a se tornar verdadeiras tendências para as gerações seguintes. Com isso, o Metrópoles separou três categorias marcantes no cinema de horror, elencou os principais filmes deste período e mostra como eles influenciaram em sucessos atuais.
Monstros
Característicos das décadas de 1930 e 1940, por conta das adaptações literárias do cinema mudo e preto e branco, o horror de monstros certamente foi um dos mais marcantes e ainda hoje é revivido em adaptações e remakes. Essa escola, que popularizou histórias como as de Drácula e Frankenstein, usava esses seres para falar de temas ligados ao período histórico que o compreendia, como a relação de poder do homem sob a mulher e a luta pelo poder entre cientistas.
Por falar em cientistas, o terror de monstros viveu um novo apogeu entre as décadas de 1950 e 1970, quando a Guerra Fria estava em seu ápice e o cinema de horror passou a trazer temas metafóricos e críticas sociais a suas tramas. As discussões orbitavam temas como medos sociais da vida urbana, ansiedade cotidiana, traumas geracionais. O Monstro da Lagoa Negra (1954) é um dos filmes que marcantes dessa época.
O cinema de monstros voltou à tona nos últimos anos com a tentativa dos estúdios de reviverem o sucesso de alguns títulos. A Universal, por exemplo, tinha alguns planos de recriar essa tendência, mas que acabou sendo deixado de lado após o fracasso de Drácula (2014). Outro sucesso recente foi Um Lugar Silencioso, que ganharia uma continuação neste ano, adiada por conta da pandemia de Covid-19.
As grandes franquias
As franquias tiveram papel importante na construção do cinema do horror e da cultura pop como conhecemos hoje. É neste período que personagens como Freddy Krueger, Jason, Michael Myers e Hellraiser surgem. Tendo seu “boom” na década de 1980, esses filmes passaram cada vez mais a abraçar o cômico e a autoparódia, fazendo com que seus personagens não precisassem necessariamente do “medo” para fazer sucesso, como em A Hora do Pesadelo (1984).
No entanto, não foi somente em décadas passadas que a fórmula deu certo. Mesmo em meio ao sucesso das “superfranquias” como as de heróis e Star Wars, o gênero do horror ainda tem conseguido firmar algumas séries no coração do público. Recentemente, títulos como Atividade Paranormal, Invocação do Mal e A Morte Te Dá Parabéns conquistaram novas gerações de fãs e estabeleceram produtoras, a exemplo da Blumhouse, como referências do gênero.
Ainda assim, antigas franquias ainda se mantém de pé, como Halloween, que retomou a saga em 2018 e ganhará uma sequência em 2021, com o retorno de Jamie Lee Curtis. Sucesso nos anos 1990, Candyman é outro títulos em busca de voltar em 2021.
“O horror nunca esteve fora de moda. A gente tem momentos que ele está mais em evidência e outros nos quais está em baixa, mas nunca some. A prova disso é evidente. Em épocas normais, você vai em qualquer cinema e sempre vai ter um filme de terror passando e uma franquia voltando”, opina Marcelo.
O terror social ou psicológico
Cada vez mais presente nos últimos anos, o chamado “terror-social” ou “terror-psicológico” tem ganhado cada vez mais apelo do público e da crítica.Novos diretores como Jordan Peele e Ari Aster investiram no tema para se firmar em Hollywood. Esse tipo, que em muitas vezes não conta com uma ameaça certa e acaba expondo problemas do ser-humano e da sociedade como um todo, também já fez sucesso no passado.
O Silêncio dos Inocentes (1991), O Iluminado (1980) e Suspiria (1977), longas que se tornaram grandes referências do gênero e até mesmo integram, para alguns críticos, a “prateleira de clássicos dos cinemas” já usavam elementos sociais ou psicológicos no desenvolvimento das tramas, sempre refletindo problemas próprios dos humanos e da sociedade.
Recentemente, títulos que têm essa proposta como pano de fundo para suas tramas se tornaram grandes sucessos e mostraram uma nova tendência do gênero. O cultuado estúdio A24 é dono de alguns deles, como Hereditário e o mais recente Midsommar. Certamente uma das maiores referências atuais do estilo é o diretor Jordan Peele, que conquistou fama com seus filmes que utilizam do horror para falar de temas como racismo e desigualdade social. Vale ver Corra! (2017) e Nós (2019).