50 Anos de Maio de 68: como a revolução impactou o cinema mundial
Protestos de meio século atrás chegaram à tela grande e ainda ressoam na produção cinematográfica atual
atualizado
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Completando 50 anos em 2018, os protestos de maio de 1968 repercutiram para fora da França, epicentro das passeatas e greves, e transcenderam o escopo da luta social. Em uma série de textos sobre o meio século do movimento mais urgente do século 20, analisamos como aquele mês influenciou e ainda mexe com o cinema, a literatura, as artes plásticas e a música. Começamos nosso giro pela tela grande.
Das artes supracitadas, a sétima é a que costuma demorar mais tempo para verter as convulsões do presente em histórias cinematográficas, sobretudo na era pré-digital. Esse “atraso” técnico, porém, favoreceu uma fusão de elementos nos anos seguintes às jornadas: contracultura, feminismo, direitos civis, cultura hippie, música pop e as insurreições de 1968 propriamente ditas.Há filmes que retratam diretamente aquelas semanas de revolta. Depois de Maio (2012), do francês Olivier Assayas, se passa após as primeiras ebulições: o esforço de jovens para levar a revolução adiante. Os protestos servem de pano de fundo para uma atmosfera de liberação sexual em Os Sonhadores (2003). Amores Constantes (2005) narra um romance durante e depois das passeatas.
Mas quais cineastas foram imediatamente impactados por maio de 68? Falamos sobre cinco logo abaixo:
Dennis Hopper: cinema da contracultura
Mais conhecido por suas dezenas de créditos como ator, a exemplo de Veludo Azul (1986) e Velocidade Máxima (1995), Hopper foi um dos nomes inaugurais do movimento que ficou conhecido como Nova Hollywood.
Feito com US$ 400 mil, Sem Destino (1969) – ou Easy Rider, em inglês – sintetiza praticamente todas as revoluções dos anos 1960, não sem um pouco de desencanto. Ao lado de outros longas – Bonnie e Clyde (1967) e A Noite dos Mortos-Vivos (1968), entre outros –, mudou o paradigma da indústria de cinema nos anos 1970, agora interessada nas narrativas produzidas por jovens artistas.
François Truffaut: a revolução nos relacionamentos
Realizado habitualmente em maio, o Festival de Cannes de 1968 foi interrompido pela metade a pedido dos cineastas Jean-Luc Godard, François Truffaut e Claude Lelouche. Truffaut usou passagens e referências à revolução no filme que lançaria meses depois, Beijos Proibidos (1968).
O romance continua a saga de Antoine Doinel (Jean-Pierre Léaud), personagem consagrado em Os Incompreendidos (1959). Dispensado do serviço militar, ele tenta arrumar um bom emprego enquanto se relaciona com Christine Darbon (Claude Jade).
Jean-Luc Godard: o inquieto por excelência
Aos 87 anos, o autor de Acossado (1960) segue instigante, desafiando os limites entre cinema e espírito revolucionário. Nos anos 1960, além de ter sido um dos vários diretores que marcharam no maio de 68, desbravou as inquietações da juventude antes e depois daquele mês. Em 1967, participou do filme de episódios Longe do Vietnã e fez A Chinesa, longa sobre jovens parisienses que almejam usar o terrorismo e o maoísmo para mudar a sociedade.
Interessado em construir um cinema autoral e político, Godard distanciou-se das narrativas tradicionais no fim da década e refletiu a revolução de pelo menos três pontos de vista: um balanço de 1968 por estudantes e trabalhadores (Um Filme como os Outros), um debate sobre cinema, revolta e ideologia por meio de um casal (Tudo Vai Bem) e uma conversa entre dois jovens mediada por imagens e sons que marcaram a época (A Gaia Ciência).
Rogério Sganzerla: Brasil em Transe
Os anos 1960 talvez representem a década mais incrível da produção brasileira. Além do Cinema Novo, a contracultura e o golpe militar de 64 mexeram com vida e carreira de jovens cineastas. Um dos mais febris deles era Rogério Sganzerla, que estreou em longas com O Bandido da Luz Vermelha (1968).
Mais do que narrativa sobre um criminoso conhecido, trata-se de um filme com o zeitgeist de uma geração vibrante. Reflete um urbanismo frenético, ruidoso, algo decadente, e as marcas de uma colagem pop sobre um país às voltas com política opressora e juventude fervilhante.
William Klein: cronista de uma época
O veterano fotógrafo e documentarista nova-iorquino, hoje com 90 anos, foi um dos artistas de cinema que mais precisamente captaram efervescência do momento. Em 1968, lançou Mr. Freedom, um filme de super-herói nada parecido com as atuais aventuras de Marvel e DC. Conservador de ultradireita, o personagem-título tenta salvar a França dos comunistas com um plano violento e destrutivo.
Dez anos depois do maio mais turbulento da história, Klein utilizou as imagens que filmou durante os protestos no longa documental Grands Soirs & Petits Matins (1978). O filme articula debates, encontros, barricadas e ocupações das ruas.