Cinema brasileiro tem em 2024 melhor ano desde o começa da pandemia
De acordo com dados da Ancine, o cinema brasileiro vai fechar 2024 com o melhor desempenho desde 2020
atualizado
Compartilhar notícia
2024 caminha para entrar para a história como um ponto de virada do cinema nacional. Se, em 199o, o termo retomada entrou em cena para marcar a produção de longas que conquistaram sucesso de crítica e público, a atual sequência positiva é marcada pelos números de bilheteria. Até o último dia 11 de setembro, os filmes nacionais levaram 7,4 milhões de pessoas aos cinemas, com renda de R$ 142 milhões, marcando os melhores números desde 2020.
Os dados, disponíveis no Painel Indicadores do Mercado de Exibição da Agência Nacional do Cinema (Ancine), indicam uma verdadeira retomada de público e renda. Mesmo antes do fim do ano, os dados são animadores. Ao todo já foram exibidos 212 títulos nacionais nos cinemas. O número tende a crescer, com as estreias de Passagrana e de Silvio. Até dezembro, novas produções estão previstas – para comparação, em 2023, chegaram às telonas 281 produções brasileiras.
Em termos de renda, 2024 já é o melhor ano desde a eclosão da pandemia de Covid-19. Parte do aumento dos números pode ser explicada por filmes que atraíram uma multidão aos cinemas. Os Farofeiros 2 (1,878 milhão), Minha Irmã e Eu (1,816 milhão) e Nosso Lar 2 – Os Mensageiros (1,611 milhão) lideram a bilheteria de produções brasileiras.
O desempenhos dos filmes chama atenção já que, desde 2019, nenhuma produção nacional havia conseguido superar a marca de mais de 1 milhão de espectadores nos cinemas. Se, de um lado, as produções parecem ter atraído mais público, houve também a retomada da Lei de Cotas de Telas – que tinha perdido vigência em setembro de 2021. A legislação, que dispõe para o número mínimo de filmes brasileiros que devem ser exibidos nos cinemas, voltou a entrar em vigor no último mês de julho.
Filmes internacionais ainda domimam mercado
A Lei das Cotas de Tela, que deve gerar mudanças no cenário a partir de 2025, traz a expectativa de equilibrar o jogo. Atualmente, até o dia 11 de setembro, 567 produções entraram em cartaz em todos os cinemas do Brasil, segundo dados da própria Ancine. Deste total, 212 são brasileiros e 355, internacionais. Os números mostram que, em todo o parque exibidor, mais de 60% das estreias foram de produções estrangeiras.
Quando a análise se detém sobre a preferência do público, a discrepância é ainda maior: 8,4% dos público total nos cinemas brasileiros optou por assistir a filmes nacionais. A maioria absoluta, formada por 91,6% da audiência, escolheu produções internacionais, segundo dados do Sistema de Controle de Bilheteria (SCB).
Se Os Farofeiros 2 chama atenção por ter atraído 1,8 milhão de pessoas aos cinemas, o longa teve desempenho quase 12 vezes menor que o filme mais visto no Brasil em 2024: Divertida Mente 2. Aliás, nenhuma produção brasileira está no TOP10 da bilheteria.
Apesar de reconhecer que 2024 teve um bom momento, a cineasta Cibele Amaral entende que para retomar os números pré-pandemia, como os de 2019, quando cerca de 23 milhões de pessoas foram aos cinemas ver filmes nacionais, é preciso mais investimentos.
“Mudou muito o modo de ver o audiovisual, as pessoas têm uma tendência ainda de asssisti em casa. Existe a questão da pirataria muito forte ainda, sem uma fiscalização, uma regulação efetiva, que também não ajuda. É isso, não voltou nem tá nem perto de chegar ao que era em 2018, 2019”, pondera.
Qualidade internacional
Além do desempenho de público, o cinema nacional, em 2024, também tem tido reconhecimento internacional. Ainda Estou Aqui, novo longa de Walter Salles, sem previsão de lançamento, tem chamado atenção da crítica estrangeira.
O filme, que faturou o prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Veneza, virou a principal aposta brasileira para voltar à disputa de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar – o que não ocorre desde 1999, com Central do Brasil, também de Walter Salles.
Outros dois títulos têm chamado atenção, são eles: Motel Destino, de Karim Aïnouz, que foi exibido em Cannes, e Baby, de Marcelo Caetano, que abocanhou o prêmio de Melhor Ator Revelação para o protagonista Ricardo Teodoro na 63ª Semana da Crítica de Cannes.