Cinema, música e televisão: cultura coreana vira febre mundial
A Onda Coreana, como é conhecido o fenômeno, veio graças a forte investimento do governo na área
atualizado
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O K-Pop pode parecer um gênero musical completamente novo, mas não passa de uma etapa na Hallyu: a Onda Coreana. Este é o nome para o plano da popularização da cultura sul-coreana feita pelo governo a partir dos anos 1990. Além dos grupos que estão conquistando a indústria fonográfica, outra vertente artística do país asiático tem conquistado sucesso mundial: o cinema.
No Oscar 2020, o longa Parasita, do diretor Bong Joon-ho, desponta como um dos favoritos ao principal prêmio da noite: de Melhor Filme. O troféu como Melhor Filme Estrangeiro já é dado como certo na bolsa de apostas – a produção também foi condecorada no Globo de Ouro e em outras premiações do começo de ano.
Popularizada por música, moda, comida, linguagem, novelas, filmes, comida, tecnologia e quadrinhos, as artes coreanas receberam força monetária do Ministério da Cultura e do Turismo para aumentar o soft power da Coreia do Sul. A base para este tipo de poder foi mencionada pela primeira vez na autobiografia do presidente Kim Gu, do Governo Provisório da República da Coreia, em 1948:
“Quero que a nossa nação seja a mais bela do mundo. Isso não quer dizer a nação mais poderosa. Por que senti a dor de ser invadido por outra nação, não quero que a minha nação invada outras. […] A única coisa que desejo em quantidade infinita é o poder de uma cultura nobre. Isso é por que o poder da cultura tanto traz felicidade quanto oferece felicidade aos outros […]”.
Desde então, 20 anos após a Guerra da Coreia (1950-1953), o país sofreu para se recuperar da devastação dos conflitos. Nesse meio tempo, a nação experienciou um período de crescimento econômico rápido apelidado de O Milagre do Rio Han. Até 1994, Hollywood ocupava cerca de 80% das ações nos cinemas coreanos. Foi então que o presidente Kim Young-sam foi encorajado a oferecer apoio e subsídios destinados à produção midiática coreana como parte da estratégia de exportação do país.
Conheça os idols que fizeram sucesso na “era de ouro” do K-Pop:
Em julho de 1997, a crise financeira asiática causou perdas no setor de manufatureiro, fazendo com que empresas se virassem ao entretenimento. O país então começou a remover as restrições de importações culturais do Japão em 1998, como filmes, anime, manga e J-Pop. Vendo o sucesso desses produtos, o Ministério da Cultura Sul-Coreano fez uma solicitação para um aumento no orçamento – o qual usaram para fundar mais de 300 departamentos da indústria cultural em universidades ao redor do país.
O efeito do investimento
Um dos grupos mais populares o Seo Taiji & Boys. Pertencentes à gravadora Banana Culture, o grupo moldou a atual indústria fonográfica do país. Fora ele, nomes como Shinhwa, JYP e H.O.T. também causaram um grande impacto na música da época. De lá para cá, o k-pop evoluiu profissional e artisticamente. O processo de seleção, sonho de diversos jovens coreanos, envolve rigorosos treinos, contratos milionários e uma infância e adolescência dedicados ao trabalho.
Outro sucesso da década de 1990 é BoA, uma cantora recrutada pela SM Entertainment aos 12 anos e construída por meio de um projeto denominado Project Mystique, no qual a gravadora investiu US$ 3 milhões – o aporte ocorreu durante uma das maiores crises financeiras do leste asiático. Atualmente, ela segue fazendo sucesso.
Quanto aos K-Dramas, ou doramas como são chamados no Brasil, o sucesso foi grande também. No cinema, o primeiro sucesso foi Shiri (1999), acumulando mais de US$ 11 milhões e ultrapassando até o dinheiro de bilheteria de Titanic no país. Outro grande destaque é My Sassy Girl (2001) que, além de se tornar popular na Ásia, também ganhou diversos remakes tanto em Hollywood quanto em outros países do continente.
Em dezembro de 2018, o Instituto de Pesquisa da Hyundai (HRI) calculou que apenas o BTS gera estimados 4 trilhões de wones para o país e 1,42 trilhões de wones de valor adicional (cerca de R$ 20,7 bilhões). Ainda de acordo com a análise do Statista, a contribuição do grupo ao PIB da Coreia do Sul é comparável à companhia aérea Korean Air.
O “Efeito BTS”
Tal propagação da cultura do país também afetou a vontade de outras pessoas visitarem o país. Apesar de não serem completamente responsáveis pelo dinheiro sendo trazido ao país, o BTS é um dos grupos mais estudados pelo seu sucesso. Ainda de acordo com o HRI, 796 mil estrangeiros foram a Coreia do Sul apenas por causa do grupo. De 10,41 milhões de turistas, 7,6% relataram ter sofrido influência do séptuplo – ou seja, um de cada 13 turistas estrangeiros.
Quanto a outras indústrias, os idols e celebridades da Coreia do Sul também causam impacto na compra de produtos nacionais. Ainda usando o BTS como referência, quando um membro usa um produto, os fãs correm para adquiri-lo. De acordo com um estudo da Naver, a boy band também teve grande impacto nas seguintes indústrias: roupas (US$ 2,026 bilhões), cosméticos (US$ 2,8 bilhões) e comida (US$ 3,96 bilhões).
Até no setor automobilístico, o grupo se destaca. Eles se tornaram os embaixadores globais da SUV da Hyundai, Palisade. De acordo com a SM2 Networks, a Hyundai recebeu 600 bilhões de wones como resultado da colaboração com o grupo.