Chiquititas foi o show mais visto no Brasil na Netflix em 2020, diz site
Embora poucas, produções brasileiras se destacaram no topo do ranking da FlixPatrol. Metade dos conteúdos mais vistos foi de fora dos EUA
atualizado
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São Paulo – Um levantamento do portal FlixPatrol informa que a produção brasileira Chiquititas foi o show seriado mais visto no Brasil em 2020, na Netflix. Entre as 10 séries mais vistas no país, cinco são produções americanas e as demais de outras nacionalidades (confira galeria abaixo).
Shows em série mais vistos pelos assinantes brasileiros da Netflix em 2020
Fonte: FlixPatrol
Entre os filmes, Tudo Bem no Natal que Vem, comédia brasileira natalina, foi a segunda produção mais vista do ano pelos assinantes brasileiros. A primeira foi o filme erótico romântico polonês 365 dias.
Novamente, no topo do ranking parte das produções mais vistas são de países tão diferentes quanto Turquia, Polônia e China. Mais adiante, se destacam entre as produções brasileiras, os filmes Ricos de Amor (em 23º) e O Vendedor de Sonhos (31º).
Filmes mais vistos pelos assinantes brasileiros da Netflix em 2020
Fonte: FlixPatrol
A Netflix não revela dados oficiais de audiência sobre filmes, séries e shows. A empresa apenas divulga um ranking diário de conteúdos mais vistos. São esses dados que plataformas como o FlixPatrol utilizam para gerar suas análises.
No entanto, um informe oficial da empresa confirma o sucesso de algumas produções brasileiras do seu catálogo, dando ênfase às produções “originais Netflix”, como a série brasileira Bom Dia, Verônica. Ainda segundo o informe, a visualização de conteúdos coreanos aumentou mais de 120% no Brasil e o consumo de conteúdos turcos quase dobrou, na esteira do sucesso de Milagre na Cela 7, que a Netflix confirma que esteve no top 10 brasileiro por 23 dias.
No ranking da FlixPatrol, o segundo show brasileiro mais visto é As Aventuras de Poliana, na posição 25; Bom Dia Verônica aparece na posição 38.
As duas produções seriadas brasileiras mais vistas na plataforma (Chiquititas e As Aventuras de Poliana) são produzidas pelo SBT. Chiquititas foi uma telenovela criada na Argentina em 1995 e que vem sendo adaptada pelo grupo Sílvio Santos ao longo de duas décadas; já As Aventuras de Poliana é de autoria de Íris Abravanel, que adaptou para a TV o livro americano Pollyanna, de Eleanor H. Porter.
Em geral, as produções americanas ainda são muito mais assistidas pelos brasileiros. Mas fenômenos de audiência como La Casa de Papel (produção espanhola) estimularam a empresa em investir na diversificação da produção e da distribuição.
Furos no monopólio americano
Tomaz Affonso Penner, da Universidade de São Paulo (USP), e Joseph D. Straubhaar, da Universidade do Texas, em Austin, estudam a distribuição de produções audiovisuais brasileiras e latinas pela Netflix.
Segundo Penner, os dados levantados pelo FlixPatrol e pelos dados de mercado mais recentes do streaming dialogam com seu estudo “Títulos originais e licenciados com exclusividade no catálogo brasileiro da Netflix: um mapeamento dos países produtores”.
De acordo com a pesquisa, a audiência tende a assistir muito mais a conteúdos nacionais e regionais devido “à proximidade cultural”, mas há pouca oferta de produtos audiovisuais brasileiros e latinos. Em levantamento, ainda inédito, Tomaz Penner informa que, em 2020, das 1.535 produções originais ou licenciadas pela Netflix para o público brasileiro, 838 foram títulos americanos (48,6%) e 24 foram títulos brasileiros (1,4%).
Para Penner, a pouca oferta, mas a afinidade cultural, pode explicar porque há poucos títulos nacionais ou latinos no ranking do FlixPatrol, mas que estão no topo do ranking.
E a Netflix está ciente disso. “Essa é uma tática da Netflix divulgada em várias entrevistas pelo CEO [Reed Hastings]. Ele busca alcançar audiências locais por meio de produções locais, esperando que posteriormente esse público migre pros conteúdos ‘globais'”, afirma Tomaz Penner.
Mas o que explica, então, nossa preferência a filmes turcos, poloneses e a uma série alemã?
“Existem certos ‘modismos’ entre o público de classe média, urbano e cosmopolita que em geral compõe as audiências Netflix mundo afora. As séries criminais escandinavas e as narcosséries latino-americanas, por exemplo, surfaram em ondas de bastante sucesso e alcançaram públicos globais. As telenovelas turcas também estão “in” no momento. A Netflix fica de olho nas produções locais de sucesso e investe na divulgação delas na plataforma, para espalhar certos conteúdos com potencial de sucesso global”, afirma o pesquisador.
Penner também adianta que há uma tendência da empresa em diminuir o percentual de produções dos EUA porque é um dos objetivos da Netflix não apenas distribuir globalmente, mas também produzir globalmente. “É importante não sermos ingênuos e acreditarmos que a companhia faz isso para democratizar os fluxos globais de mídia. Na verdade há retorno financeiro. É uma estratégia de acesso a públicos locais muitas vezes bastante restritos.”
Netflix no Brasil
A plataforma não declara quantos assinantes possui no Brasil.
Uma estimativa feita pela CompariTech, empresa de análise de mercado de tecnologia, aponta que o Brasil é o terceiro maior cliente da Netflix. O país gerou à empresa uma receita de cerca de US$ 395 milhões apenas no primeiro trimestre de 2020. Isso equivaleria a cerca de 15,5 milhões de assinantes, num cômputo conservador, considerando que todos os brasileiros pagam o pacote mais caro, de R$ 45,9.
Com este número, a plataforma já teria superado a quantidade de assinantes de TV paga no país, de 15,2 milhões, de acordo com dados da Anatel de julho de 2020.
Ainda segundo dados do Ibope, atualmente no Brasil, a audiência do streaming é maior que da Record, SBT, Band e RedeTV, ficando atrás apenas da TV Globo.