Carnaval do DF começa com festa, protestos e segurança
Com o desfile no Galinho e a concentração no Setor Comercial Sul, brasilienses caíram na folia neste sábado (22/02/2020)
atualizado
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O primeiro dia do Carnaval 2020 foi de alegria para os milhares de brasilienses que festejaram nas ruas do Distrito Federal. O sábado (22/02/2020) teve o Galinho, que arrastou 6 mil foliões no Eixo Monumental.
Em todo o DF, mais de 60 blocos agitaram todos os cantos da capital. Mas a maior concentração de pessoas ocorreu no Setor Comercial Sul (SCS) que, nestes dias de festa, muda de nome para Setor Carnavalesco Sul.
Em meio a manifestações políticas e culturais, houve vaias ao governo e apoio à bandeiras da diversidade. Nem a chuva atrapalhou aqueles que desfilaram pelas ruas com as mais criativas fantasias.
Outro destaque positivo foi a ausência de ocorrências policiais graves. O reforço na Segurança Pública, com 1,2 mil PMs nas ruas, além de Policiais Civis, bombeiros e integrantes de outros órgãos, como o Departamento de Trânsito (Detran).
A Subsecretaria do Sistema da Defesa Civil, vinculada à Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF), realizou vistorias em instalações elétricas, condições de geradores, tendas, além da documentação exigida aos blocos, tanto na sexta quanto no sábado.
Setor Carnavalesco Sul
No principal palco da festa de sábado, no SCS, dois palcos e um trio elétrico receberam diferentes blocos ao longo do dia. Segundo a organização do evento, cerca de 30 mil pessoas eram esperadas.
Ao longo da manhã, no local, se apresentaram os blocos: Deus Ajuda Quem Seu Madruga, das 5h às 10h; e Folha Seca, das 8h às 10h. À tarde, foi a vez do Bloco Sustentável Patubatê, das 10h às 16h; Bloco MamaTá Difícil, das 17h às 23h; Bloco As Leis de Gaga, 11h às 17h; e Bloco Limbo, das 17h às 23h.
Veja fotos:
No bloco LGBTQ+ As Leis de Gaga, que continuou mesmo depois do horário previsto para encerrar, cerca de 6 mil pessoas estiveram presentes.
Durante o evento, o público protestou diversas vezes contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), aos gritos de: “Ei, Bolsonaro, vai tomar no cu”. “Fora machismo, fora racismo, fora assédio e fora Bolsonaro”, disse um dos integrantes do bloco carnavalesco.
Memes
Para o arquiteto Marcos Afonso Pires Severo, 22 anos, a utilização do espaço do Setor Comercial Sul para as festividades de Carnaval foi o que mais lhe atraiu. “Eu achei incrível a realização do Carnaval aqui. A gente nunca usa esse espaço e agora posso sentir que estamos ocupando a cidade. É um local que tem um potencial gigante e que deveria ser usado mais vezes para eventos como esse”, avaliou.
“É um local muito bom mesmo. Eu estou amando”, acrescentou o namorado dele, Felipe Ferraz, 24.
Juntos, os dois chamaram atenção de outros foliões com a fantasia que representa um meme que ficou famoso na internet, de ratos vestidos como membros do alto clero.
“No meme, tem os ratinhos e umas palavras do latim: ‘Dorime, Ameno, Latire’, que são de uma música clássica”, explicou Marcos. “A gente tem com uma amiga a fantasia escrito ‘Ameno’, mas perdemos ela e agora ficou incompleto”, afirmou Felipe, rindo.
O estudante de odontologia João Gabriel Costa produziu a fantasia com que veio para o Carnaval. A ideia é não voltar pra casa no zero a zero. “Quero beijar na boca né?”, brinca.
Frequentador das festas promovidas no local, o jovem afirma que neste ano a folia está melhor e mais segura. “Esta estrutura com vários palcos é muito boa. Da para curtir diversos sons. A segurança e o policiamento também está maior, desde que cheguei não vi nenhuma confusão”, avalia.
MamaTa Difícil
No segundo ano que o bloco MamaTa Difícil se apresenta na capital, aproximadamente 4 mil pessoas são esperadas para prestigiar as apresentações. No evento marcado por protestos contra o presidente da República, integrantes do bloco pediam por maior valorização à arte brasileira.
“É um protesto que fazemos contra a censura que a classe artística vem sofrendo do presidente Bolsonaro. Nós somos um grupo de artistas e queremos deixar nossa manifestação contra isso”, salientou a organizadora do bloco carnavalesco Luísa Carvalho.
No palco, um cartaz pendurado exibia a seguinte frase: “A arte brasileira da próxima década será revolucionária, libertadora, empoderada, indígena, negra, feminina… Ou será isso ou não será nada”.
O cartaz é uma crítica a um discurso do secretário especial da Cultura do governo Bolsonaro, Roberto Alvim, feito em janeiro deste ano. À época, a fala do secretário, semelhante ao do ministro de Adolf Hitler da Propaganda da Alemanha Nazista, Joseph Goebbels, culminou em sua demissão.
Galinho
Uma das primeiras atrações do dia foi o Galinho de Brasília, que ligou as caixas de som por volta das 10h da manhã, com o Pintinho de Brasília, versão infantil da festa.
Em virtude do cortejo, a via N1 ficou fechada e a via Contorno do Estádio Nacional de Brasília, funcionando em sentido único e anti-horário.
Quem chegou cedo para curtir com os filhos disse que valeu a pena. “Estamos aqui desde às 10h. Foi nota 10, a organização está de parabéns”, elogiou a brasiliense Grazielle Pacheco, que foi à festa acompanhada da filha, Isabel, 5 anos, pela primeira vez. “Ela também está adorando”, garante.
O escritor Mateus Santana levou o pequeno Abayomi, 2, para seu primeiro Carnaval. A ideia é que ele pudesse curtir a companhia de outras crianças. “Estamos aqui há pouco mais de uma hora e varias já chegaram aqui para brincar com ele. É o melhor bloco pra curtir com crianças. Tem boa estrutura para se abrigar da chuva”, avalia.
Folia raiz
Oscar Torres e Marco Antônio são frequentadores assíduos do bloquinho com inspirações pernambucanas. Este ano, a dupla levou o amigo Pedro Martins para aproveitarem juntos o primeiro dia oficial de Carnaval na cidade. “A gente curte muito a proposta do bloco”, justificou.
Quem também costuma curtir a data ao som de frevo é a carioca Nadege Maria, 76. Com sangue pernambucano na veia, ela não perde um Galinho desde que chegou em Brasília, há mais de duas décadas.
“Meu pai era louco por frevo, montava até coreografia. Herdei essa paixão dele”, declara a foliã, acompanhada de Maria Elisabeth, 63, fiel companheira de Galinho.
A programação de Carnaval das duas começa e termina no tradicional bloco. “Guardamos o pique para vir hoje, porque aqui tem mais a nossa cara. Não gostamos muito de sertanejo, funk e rock, estilos que tocam nos outros blocos”, pontua Maria. “Aqui, é Carnaval raiz”, completa Nadege.
Criado por amigos pernambucanos e inspirado no Galo da Madrugada, o tradicional bloco brasiliense completa 28 anos de carnaval de Brasília.
Não é só folia
Além de cantar e dançar ao som de frevo, teve brasiliense que veio ao Galinho para protestar. É o caso de Ana Paula Tombini, que levou um acessório peculiar para a foliã: uma placa com os dizeres: “Hoje eu tomo cachaça e amanhã, os meios de produção”.
Segundo a estudante, o adereço é uma crítica ao capitalismo. “Não sou contrária ao sistema, mas essa é uma provocação, porque o carnaval também é um ato político, um momento pra gente questionar e refletir”, explica.
Comércio
Segundo informações da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes do Distrito Federal, a cidade deve receber 1,2 milhão de pessoas no Carnaval deste ano. Um número que anima todo o comércio, incluindo os ambulantes.
Ana Cristina, 32, montou uma banquinha com tiaras e adereços de carnaval na concentração do Galinho e, antes mesmo do início do desfile, às 14h30, poucas unidades ainda estavam disponíveis. “O pessoal começou a investir pesado no look de Carnaval, todo mundo a caráter, com muito glitter. Bom demais para os negócios”, diz.