Carnaval 2020: Pacotão desfila com irreverência e protestos
Um dos mais tradicionais blocos de Brasília sai pelas ruas da cidade nesta terça-feira (25/02/2020)
atualizado
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O Carnaval de Brasília segue com fôlego neste quarto dia de folia. Na comercial da 302/303 Norte, um dos blocos mais tradicionais e irreverentes da cidade ligou as caixas de som às 12h para protestar Contra o Fascismo na Contramão, tema da festa este ano. O cortejo foi iniciado por volta das 16h15, com cerca de 3 mil pessoas.
O bloco, formado por jornalistas em 1988 como protesto ao Pacote de Abril, editado pela ditadura e responsável pelo fechamento do Congresso Nacional, faz referência às denúncias de “rachadinha” no gabinete de Flávio Bolsonaro, entre 2007 e 2018, quando ele ainda era deputado estadual no Rio de Janeiro.
Para tanto, a liga elaborou um samba sobre Fabrício Queiroz, ex-assessor do filho zero um do presidente Jair Bolsonaro. Com versos como “O pacotão vai escrachar no Carnaval, essa milícia e também o laranjal”, e “Contra o fascismo, luta do povo, tem Pacotão vindo na contramão de novo”, o bloco promete ser ainda mais político.
“O Pacotão quer derrubar o governo Bolsonaro”, afirma Wilsinho Red, um dos organizadores do evento.
Protesto
Nazareth Brito, 50 anos, veio para a festa vestindo a cor laranja da cabeça aos pés, como protesto ao “fascismo institucional” que, segundo a foliona, dá a tônica da política brasileira neste governo. “Carnaval também é um instrumento de protesto”, declara.
O casal Fábio Oliveira e Cristina Vendramini também abusou da criatividade para manifestar insatisfação com o mandato do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e sua equipe ministerial.
A fantasia escolhida foi de Jesus na Goiabeira, em referência a uma fala da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, que afirmou ter visto Jesus subir em um pé de goiaba quando ela tinha 10 anos de idade.
“Trouxe também as cores da bandeira LGBT. É uma crítica à homofobia, à intolerância e ao hábito dos políticos brasileiros de usarem o nome de Deus para se promoverem”, explica Fábio, que acrescentou: “Religião, futebol e política nunca devem se misturar”.
Glaucoma
Os foliões são puxados desde 1988 por Francisco Laranjeira, que, aos 62 anos e praticamente nenhuma visão, é sempre presença confirmada na festa.
O pioneiro ficou cego em 2017, em virtude de um glaucoma. Condição que não o impede de guiar a agremiação. “Eu amo o Pacotão, ele faz parte da história de Brasília e da minha. Enquanto tiver vida, vou estar aqui na frente”, conta, emocionado.
E quem disse que só críticos ao governo participam da folia proporcionada pelo Pacotão? A professora Fernanda Severo foi com a família representar a parcela de brasileiros que apoiam o atual presidente. “Minha família é toda militar e Bolsonaro. Chega de PT”, frisa.
Ela acredita que a festa também reserva espaço para a diversidade de opiniões. “Venho todo ano, apesar da posição política. É um bloco seguro e família”, acrescenta.