Cannes: The Old Oak, de Ken Loach
Diretor britânico traz para o Festival o que diz ser seu último filme.
atualizado
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É de se esperar que pessoas mais idosas reflitam sobre o passado de uma maneira cheia de nostalgia, mas diretores de cinema são criaturas diferentes. Em vez de lamentar um passado, os melhores procuram contemplar as tensões do presente em relação à possibilidades de futuro. Ken Loach já fez de tudo, inclusive ganhar a Palma de Ouro duas vezes. Crítico constante da despersonalização moderna do ser humano, seja pelo governo britânico (como em ´Eu, David Blake´) ou pelo mercado (como em ´Sorry We Missed You´), em seu novo, e supostamente, último filme, ele traz seu olhar para dentro.
O gancho do filme é que a chegada de vários refugiados sírios à uma pequena cidade inglesa, chuvosa e desesperançosa. ´Esquecidos´ pelo capitalismo, os habitantes ingleses ofendem e intimidam os novos vizinhos. Parece paradoxal, claro, já que a cidadezinha claramente precisa de um pouco de sangue novo, mas o sangue ofertado é muçulmano. O centro moral do filme é TJ Ballantyne (Dave Turner) dono do pub que dá nome ao filme. Assim como os outros habitantes da cidade, TJ está meramente sobrevivendo. Com um negócio que é o centro social local, aonde todos vem para beber e desabafar, ele tenha algum treinamento menos formal para a compaixão. Desde o começo, vê os refugiados como pessoas a serem defendidas, e isso o coloca em uma rota de colisão com seus clientes.
A personagem central entre o grupo recém chegado é Yara (Elba Mari), que sabe falar inglês. Aspirante a fotógrafa, é vítima de um morador, que quebra sua câmera. TJ intervém. Ele oferece à jovem síria uma das câmeras usadas que ele guardou no depósito do bar. Está aí uma metáfora simples da utopia de Loach: se todos pensarem um pouco, cada um tem algo que poderia ajudar o outro, algo que não faria a menor falta. Em contrapartida, os moradores se remoem de raiva pela possibilidade dos refugiados ocuparem apartamentos e casas vazias da cidade, abandonadas por ex-moradores, que foram tentar a sorte em outro lugar.
O problema é que, numa longa cinegrafia ativista, este filme específico de Loach não se destaca dos outros. Os diálogos não são criativos ou interessantes, além do que, estão propensos a lecionar e a didática. Todo dia, quando acorda, TJ vai pro lado de fora do bar e, com um longo pedaço de pau, tem de reposicionar a ´K´ do letreiro do bar. É este tipo de linguagem. O elenco é, em grande maioria, composto por não atores. Embora isso seja uma limitação, em momentos de forte emoção, Turner e os outros conseguem fazer o espectador ficar de pele arrepiada.
Por isso que o filme não merece ser desconsiderado: a última crítica do mestre do realismo social contemporâneo é direcionada para dentro. O protagonismo das classes operárias, desta vez, é chamado para fazer sua parte e ajudar os menos afortunados. E rescaldado pela sua crueldade.
Avaliação: Regular