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Cannes: Strange Way of Life, de Pedro Almodóvar

Novo filme de cineasta espanhol começa com uma balada cantada por Caetano Veloso, assim como um curta deve ser.

atualizado

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Festival de Cannes/Divulgação
Strange Way of Life
1 de 1 Strange Way of Life - Foto: Festival de Cannes/Divulgação

Pedro Almodóvar é, até hoje, o diretor mais reverenciado do Festival a nunca receber sua maior honraria: a Palma de Ouro. Tamanha foi a badalação para a primeira sessão de imprensa de seu média-metragem, e tão confusa a distribuição de ingressos que até figurões de Hollywood ficaram sem entrar, raivosamente descarregando o imprevisto nos estoicos protetores da entrada da sala. Parece que jornalistas menos “importantes”, rufiões da internet, tinham recebido ingressos em excesso. Outra sessão foi montada às pressas, para dias depois, e o filme que era pra passar uma só vez, passou duas.

A hype tem motivo: o curta, em inglês, foi rodado em parceria com a marca fashion Yves Saint-Laurent, trata de um romance gay no Velho-Oeste americano e tem o astro pop do momento, Pedro Pascal, como um dos protagonistas. Ele é um forasteiro chamado Silva, que chega à cidadezinha americana de Bitter Creek para re-encontrar alguém que não via em mais de 25 anos: o agora xerife Jake (Ethan Hawke). A cunhada de Jake fora morta, e o suspeito principal é o filho de Silva, suposto amante da vítima. Só que após um jantar regado a vinho, os dois pulam para a cama, e vemos que o encontro é sobre muito mais do que o presente.

Para muita gente o drama daria até para um longa, e Almodóvar preenche a minutagem com tudo que esperamos de um Western: fatalismo e violência. Só que o formato de curta-metragem obriga tudo a mover rapidamente de maneira objetiva. É claro que o diálogo sofre um tanto, precisando explicar a trama atual e a do passado, contando ainda com o fato do inglês não ser a língua materna do diretor. Por isso mesmo o casting de Hawke e Pascal faz a diferença. Eles conseguem pegar o diálogo estacato e fazê-lo soar verdadeiro. A cena, em flashback, do primeiro beijo entre os dois, é uma masterclass em concisão.

Aliado à marca Saint-Laurent, o diretor apresenta uma suntuosidade tátil ao filme que, por vezes, chama mais atenção do que deveria: após um banho, por exemplo, Jake se enxuga com uma toalha tão branca, e tão macia, que nem o maior barão de um vilarejo do Texas conseguiria encontrar dois séculos atrás. Merchandising ou uma dica de como Jake consegue exorcisar sua homossexualidade reprimida, com um jogo de mesa e banho, uma gaveta de cuecas tão delicada e bem organizada?

No final das contas, Almodóvar ainda provoca uma ousadia incrível: Silva reflete e consegue reinterpretar uma visão de Velho Oeste diferente do que toda a cinegrafia americana já apresentara. É, sem dúvida, um Western pós “Brokeback Mountain”, só que mais direto e esperançoso.

Avaliação: Ótimo (4 estrelas)

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