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Cannes: Rapito, de Marco Bellocchio

Antigos pecados da Igreja Católica voltam à luz no novo filme do italiano.

atualizado

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Festival de Cannes/Divulgação
Rapito
1 de 1 Rapito - Foto: Festival de Cannes/Divulgação

Força perene no cinema italiano desde a década de 60, Marco Bellocchio está passando a década re-examinando o passado próximo de seu país. É uma vertente interessante: a examinação de um passado que ele viveu em sua juventude, agora por uma lente mais velha e talvez madura. O que o filme tem a expor não é um tema muito inusitado, afinal, tem tempos que os crimes feitos em nome da Igreja Católica não param de vir à tona. Só que estes fatos, se não fossem reais, extrapolariam a imaginação.

A família Mortara é simples e respeitada em sua vizinhança. Judaica e praticante, são surpreendidos por emissários do Papa Pio IX (Paolo Pierobon), que chegam para extrair da residência uma das oito crianças, o pequeno Edgardo (Leonardo Maltese). O que antecede o rapto é, digamos, inusitado: enquanto o menino lutava contra uma febre poderosa, sua babá, temendo pela vida do pequeno, faz nele um batismo emergencial, para que a morte não o castigue num eterno purgatório, visto que é judeu. Estando portanto, este recentemente-batizado cristão numa família de judeus, a Igreja vai lá e pega.

Não faz tanto tempo assim que o poder das instituições eram plenos, especialmente no que tange a religião. E é isso que Bellocchio procura explorar. O caso Edgardo estoura na sociedade de 1858, gerando todo tipo de reação. Só que o quanto mais razoável parecer óbvia a devolução do menino, mais o Papa bate seu pezinho engomado na decisão de criá-lo dentro da Igreja. A luta da família de Edgardo não é nada em comparação ao poder de Pio e seu Inquisitor, Feletti (Fabrizio Gifuni).

Bellocchio também parece entender o poder da suntuosidade e da piedade da Igreja Católica. Não seria à toa que ela conquistou tanto poder através da história. A tirania que acontece com Edgardo não é violenta, e, em pouco tempo, o menino se sente em casa no Catolicismo. Na vida adulta, interpretado por Leonardo Maltese, vira padre. É um reflexo do carinho com o qual foi tratado e da atenção especial que lhe foi provida. Os cenários são suntuosos, a fotografia e a trilha sonora, luxuosas.

Cabe notar, além da crueldade destes homens, o descaso com o qual eles tratam a comunidade judaica. Sem dúvidas, um prenúncio terrível do que ainda seria perpetrado contra estes no continente. Ao comentar sua participação no rapto da criança, um dos personagens explica que estava meramente “cumprindo ordens”.

Avaliação: Bom (3 estrelas)

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