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Cannes: May December, de Todd Haynes

Filme que promete intriga e sensualidade, em vez disso, prefere ser morno e dizer pouco.

atualizado

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Festival de Cannes/Divulgação
May December
1 de 1 May December - Foto: Festival de Cannes/Divulgação

O melodrama americano tem uma longa história, com Douglas Sirk como um de seus maiores expoentes. Em seus filmes dramáticos, é desta fonte que Todd Haynes bebe, começando com “Far From Heaven”, aonde Julianne Moore interpretava uma dona de casa da década de 50, casada com um marido gay e atraída pelo jardineiro negro. A dificuldade de relações entre pessoas, causada em grande parte por proibições “morais” da sociedade em que habitam é o cerne do conflito dramático.

Em “May December”, Natalie Portman vive Elizabeth Berry (Natalie Portman), para passar um tempo com o casal Gracie Atherton-Yoo (Julianne Moore) e Joe (Charles Melton). Só que ela não é amiga do casal, e sim uma respeitada atriz de Hollywood que veio “estudar” Gracie, seu próximo papel em uma adaptação da história real do casal para o cinema. Existe algo curioso nesta relação, afinal Joe é muito mais novo que sua esposa. O diretor prefere alimentar a curiosidade do espectador aos poucos, embora as primeira críticas e o próprio marketing deve entregar o twist.

O amor entre Gracie e Joe é antigo: ela foi presa, grávida de Joe, quando este tinha apenas 13 anos. Ela era casada, já tinha dois filhos, e ele tinha um trabalho de verão num petshop. Com a pena cumprida, eles continuaram juntos e tiveram mais dois filhos. Os filhos do casamento prévio de Gracie tem a mesma idade de Joe e, importante lembrar, todos da comunidade, e do país, conhecem sua história. O filme novo que virá, protagonizado por Elizabeth tem a promessa de dar um tratamento humano a um grupo de personagens que tiveram suas vidas já expostas na versão tabloide.

Haynes começa a soprar um balão cheio de tensões: Gracie não sabe o quanto confiar em Elizabeth, um de seus filhos adultos ronda pela periferia da história, Joe as vezes parece habitar um mundo só dele, criando lagartas que constroem casulos para depois se transformarem em borboletas (uma metáfora óbvia demais)… O coração do filme se divide entre dois aspectos: o modo matriarcal e controlador de Gracie, especialmente perante os comportamentos de Joe, que, apesar de parecer estável, carrega muita confusão interna por ter começado isso tudo enquanto criança e a tensão com a qual Gracie está permitindo a convivência com Elizabeth, que parece já tentar incorporar suas maneiras e jeito de falar ao mesmo tempo em que posa perguntas desconfortáveis para a família inteira.

A trilha sonora deixa claro que o plano de Haynes, desta vez, é buscar a metalinguagem, brincar com nossas expectativas e a fórmula do melodrama. Momentos bobos são propositalmente atordoantes pelo uso agressivo de um piano. Só que esta brincadeira pode servir também como uma metáfora do filme em si: uma arriscada promessa de algo explosivo e catártico que ele nunca planeja oferecer. É da moda subverter expectativas, claro, mas “May December” não entrega nada no lugar do que já esperávamos. Em vez de estourar o balão do melodrama, Haynes vai deixando o ar sair bem devagarinho.

Avaliação: Regular (2 estrelas)

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