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Cannes: Le Livre des Solutions, de Michel Gondry

Se o diretor esperava um protagonista charmoso apesar de suas falhas, errou feio.

atualizado

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Festival de Cannes/Divulgação
Book of Solutions
1 de 1 Book of Solutions - Foto: Festival de Cannes/Divulgação

Filmes com diretores de cinema como protagonistas convidam muita comparação, especialmente de críticos, com o próprio diretor do filme. Se o novo filme de Michel Gondry for autobiográfico de qualquer maneira… coitados de seus colaboradores. O filme começa com Marc (Pierre Niney), que não está conseguindo terminar de montar o filme que já rodou, com seus produtores e financistas. Estes acham o que foi apresentado até agora horrível, e querem tirar a pós-produção de suas mãos. Desesperado, Marc sai da reunião e rouba todos os HDs com seu filme, fugindo até poder terminá-lo à seu modo.

Perder o controle da própria obra é o maior medo de um artista. E Marc ainda tem certeza que seu filme, chamado “Anyone, Everyone,” pode ser sua obra-prima. Por isso, ele foge para a casa de campo de sua tia Denise (Françoise Lebrun), levando consigo os HDs, um corte do filme com 4 horas de duração, sua montadora Charlotte (Blanche Gardin), a assistente Sylvia (Frankie Wallach), e Gabrielle (Camille Rutherford). Além de remontar o filme, estes personagens, e tantos outros mais, deverão ajudar Marc a criar as novas sequencias que ele imagina.

O problema de “Le Livre des Solutions” é que, pela primeira vez no cinema, é mais fácil empatizar com aqueles que querem tirar o filme de Marc do que com o próprio artista. Completamente absorto num tipo de procrastinação misturada com bloqueio criativo, Marc segue aterrorizando suas colaboradoras com pedidos extravagantes. Com todos morando na casa da tia, ninguém tem privacidade. Marc entra no quarto de Sylvia enquanto ela dorme e pede uma orquestra para compor uma música. Sem ideias, pede que Charlotte remonte o filme inteiro, todas as 4 horas, ao contrário.

Marc beira a sociopatia, na medida em que abusa da equipe, todos lá por boa vontade. (O fato de que a maioria é formada por mulheres, forçadas a mimar o ego do artista masculino, não merece passar batido.) Como uma de suas divagações, Marc resolve escrever “O Livro das Soluções”, um caderno com regras abobadas e incoerentes. Como exemplo, “Não dê ouvidos aos outros” e, páginas depois, “Dê ouvidos aos outros”.

Existe um filme a ser feito sobre o processo criativo de artistas diferenciados, como o próprio Gondry, mas ao misturar criatividade com psicopatia e colaboração com abuso, sem dar nexo a nada, o diretor mostra apenas a razão pela qual não produz o tanto que deveria.

Avaliação: Ruim (1 estrela)

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