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Cannes: La Passion de Dodin Bouffant, de Tran Anh Hung

Trama requentada atinge a excelência pelos atores e pela suntuosidade da produção.

atualizado

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Festival de Cannes/Divulgação
The Pot Au Feu
1 de 1 The Pot Au Feu - Foto: Festival de Cannes/Divulgação

A sociedade atual sabe valorizar comida. Dentre guias de viagem, guias Michelin, guias de instagram, o conceito do Foodie é algo que se espalha pelo mundo. Apresentações rocambolescas, mistura de ingredientes inusitados e storytelling vieram para aumentar os preços de nosso cardápio. Talvez por isso temos de depender dos franceses para expressarem comida não como símbolo de riqueza ou de status, mas como uma razão para se viver. Ou, pelo menos, um filme francês feito por um diretor nascido no Vietnã. Engraçado identificar este contraste. O que falta no filme é uma certa audácia em sua narrativa, seu storytelling, mas o que sobra em suntuosidade e atmosfera é bem mais que uma refeição completa.

Benoît Magimel e Juliette Binoche interpretam um casal, Dodin e Eugénie, na cama e na cozinha, preparando e servindo refeições somente para clientes que sabem dar o devido valor às suas criações. Os primeiros quarenta minutos do filme são todos entregues à preparação da cozinha. De fato, é aqui que a maior parte do filme se dá. Raramente saímos do casarão onde estes artesãos vivem–volta e meia estamos na sala de jantar, ou no quarto, ou no jardim… O mundo do casal gira em torno da cozinha e da mesa de jantar, e lá estão, felizes.

Só que quando o jantar está pronto, é só Dodin que senta com os clientes na sala de jantar. Eugénie e sua ajudante, Violette (Galatea Bellugi), ficam na cozinha. Outros tempos, outros costumes, até por que Dodin se porta mais como um devoto à sua musa do que um machista contemporâneo. Completamente apaixonado, ele pede constantemente a mão de Eugénie em casamento. Ela sempre diz que não, que gosta das coisas como estão, e por que mexer com isso? (A dramaturgia nunca viu um casal feliz sem querer dividi-los, mas a sincronia entre os dois é tanta que o golpe vem não com desacordos, intrigas ou violência, mas com uma tosse.)

“La Passion de Dodin Bouffant” não é simplesmente um filme sobre comida que enche o espectador de fome, como tantos outros. É a obra que alça a comida para o nível de religião, um tratado que endeusa a relação entre o material para uma refeição e o artista que , como se a comida e ser humano trabalhassem juntos para mostrarem o melhor de si. É claro que espectadores mais adeptos à paciência narrativa curtirão mais o filme, só que a precisão técnica de Anh Hung é tanta, e a fotografia tão atenciosa, que até aqueles avessos ao fogão entenderam a graça do negócio.

Avaliação: Ótimo

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