Cannes: Kubi, de Takeshi Kitano
Saga ambiciosa é bem filmado e marcante, mas a narrativa é confusa demais.
atualizado
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O diretor japonês Takeshi Kitano nunca seria acusado de sutileza. Mais conhecido internacionalmente por filmes do universo criminoso yakuza, aqui ele busca brincar em um cenário paralelo: a época dos samurais. Existe um paralelo direto entre os dois mundos: uma subcultura que carrega um próprio código de ética, independente do código penal. A disputa por poder é perene, assim como a troca de lealdades e constantes traições. Por isso, “Kubi” teria o potencial de ser a obra-prima do veterano.
Oda Nobunaga (Ryo Kase) seria o líder de um Japão unificado, se não fossem as pequenas rebeliões e a tentativa de assassinato que ele acaba de sobreviver. Indignado, e propenso a toques de sadismo, ele demanda uma repressão violenta. Só que parece que um de seus escudeiros, Akechi Mitsuhide (Hidetoshi Nishijima), está por trás da tentativa, apoiando um outro general, Araki Murashige (Kenichi Endo), que já tentara uma rebelião. Kitano, ousado, propõe que ambos já foram amantes. De qualquer maneira, o filme começa com uma cabeça decapitada.
A insinuação de uma relação homossexual entre samurai não é algo discreto: ela permeia o filme, envolvendo o próprio Oda, que massacra os seus súditos na cama e fora dela. Em diversos pontos do filme, parece que todos os homens já dormiram uns com os outros. Apesar da história oficial já conter tais rumores, é difícil encontrá-los em um filme que busca apelo comercial. Talvez seja um sinal de aceitação em tempos modernos. A entrada do amor entre homens na disputa pelo poder é algo que Shakespeare deixou de fora.
As várias rebeliões, conflitos, mini-brigas, traições, reconciliações e etc perpassam personagens de todo segmento do país, incluindo os já mencionados líderes até um par de pedintes atravessando o país, fazendo parte de um exército e depois outro, meramente tentando sobreviver. As batalhas, essas sim, são as sequencias pela qual Kitano parece ter um ardor pessoal. São várias, são imensas, absurdistas e as vezes até cômicas na brutalidade e arbitrariedade de sua violência. Tudo parece acontecer com atores de verdade–um doce refresco em época de lutas entre personagens gerados em computadores.
Só que a clareza da ação é ofuscada pela confusão narrativa entre tantos personagens. A ambição narrativa, de imbuir tantas histórias dentro de uma só mais confunde do que esclarece. Fica difícil lembrar qual personagem já fez o quê. “Kubi” permanecerá um artefato para fãs do gênero samurai ou deste período histórico do Japão, mas sua confusão narrativa será um bloqueio para a maioria dos espectadores.
Avaliação: Regular (2 estrelas)