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Cannes: Killers of the Flower Moon, de Martin Scorsese

Todo o trabalho técnico e o rigor antropológico não são o suficiente para descontar o fato de Scorsese ter escolhido o protagonista errado.

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Divulgação/Festival de Cannes
Killers of the Flower Moon
1 de 1 Killers of the Flower Moon - Foto: Divulgação/Festival de Cannes

Nunca é possível contar Martin Scorsese fora da conversa sobre cinema, mesmo que, nos tempos atuais, ele tenha vestido o roupão de carrancudo com suas críticas um tanto óbvias à Marvel. De fato, a fase atual do cineasta Nova-Iorquino é uma de suas mais incríveis, com 3 obras-primas seguidas (O Lobo de Wall Street, Silêncio e O Irlandês) e altíssimas expectativas para seu novo longa-metragem. “Killers of the Flower Moon” é tão caro e extenso que foi bancado pela Apple, a empresa do iPhone, que queimou a largada de todos os outros serviços de streaming ao ganhar o Oscar de melhor filme em 2022 com “Coda”. Será que Steve Jobs viria à Croisette? Tim Cook veio.

A exibição do filme fora da mostra competitiva, em uma só sessão para convidados e outra para a imprensa, sem reprises, insinua que a estreia é puro marketing, uma criação de expectativa e hype. Pois se Jobs estivesse aqui, certamente iria querer competir.

Muito se tem marquetado o respeito absoluto que a construção do filme teve com sua importância histórica, especialmente ao se tratar de um diretor branco contando uma história sobre a vitimização de uma tribo indígena, no caso, os Osages de Oklahoma. Tal marketing busca controlar a narrativa jornalística e cultural sobre o filme, tentando destacar esta mea-culpa um tanto óbvia para que os espectadores passem a desconsiderá-la em suas avaliações. Só que é exatamente este olhar que impede o filme de ser a quarta obra-prima seguida de Scorsese. Não por questões éticas, mas narrativas mesmo.

No começo do século 20, em algo que mais parece uma ironia do destino, a tribo Osage foi “relocada” pelo governo dos Estados Unidos a uma terra infértil e pouco produtiva no interior do estado de Oklahoma. Com suas terras originárias já tomadas por colonizadores, era uma esmola oficial para que sumissem e vivessem isolados. Só que poucos anos depois, descobriram petróleo naquela terra infértil e, como donos delas, os Osage passaram a ser a população mais rica, per capita, do país.

É claro que as forças econômicas capitalistas não deixariam isso barato. Quando Ernest Burkhart (Leonardo DiCaprio) desembarca em Oklahoma pra trabalhar com seu tio, William Hale (Robert De Niro), ele entra numa trama tenebrosa para se apossuírem do dinheiro Osage. O plano envolve até se casar com Mollie Kyle (Lily Gladstone), membra da tribo Osage. Scorsese escolhe então fixar este casamento como a metáfora íntima da narrativa. Só que os personagens principais são Burkhart e Hale, e não Mollie e outras pessoas de sua tribo.

Assistimos então uma tentativa constante de redenção a Burkhart, às custas de Mollie. Apesar desta ter uma presença constante na trama, o roteiro não lhe dá nada para fazer. Ou mesmo algum outro personagem indígena. “Killers of the Flower Moon” é um grande épico sobre os homens que perpetraram um grande crime sobre uma população indígena. Poderia ter sido muito mais.

Avaliação: Ótimo (4 Estrelas)

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