Cannes: Jeunesse (Le Printemps), de Wang Bing
O formato do filme é o ponto do filme.
atualizado
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Num mundo globalizado, após o surgimento do ´fast-fashion´, desejamos pagar cada vez menos por roupas bonitas. Existe um preço para isso, e o objetivo do diretor chinês Wang Bing em seu documentário, traduzido como Primavera (Juventude), é expô-lo. Para isso, montou um épico claustrofóbico, que se passa inteiramente numa fábrica de tecidos, com mais de três horas de duração. É exaustivo e maçante, mas este é o propósito.
Imaginar que a experiência de assistir um filme maçante por mais 3 horas, situado numa fábrica têxtil, seria um alívio para os operários que lá habitam e trabalham. Zhili, na China, é conhecida como a “cidade das roupas infantis”, e recebe, por temporada, milhares de jovens entre 16 e 22 anos para lá se encalacrarem sem folgas e produzir, produzir e produzir.
O zumbido das máquinas de tecelagem é constante, substituído apenas por músicas pop tocadas nas caixas de som da fábrica e as vozes empolgadas do trabalhadores. Aqui temos um tema importante–a juventude destas pessoas parece ser necessária para elas não saberem nada do que lhes é devido pela vida. Passar todo dia trabalhando em um local que parece uma prisão brasileira por meses a fio é algo que eles e elas simplesmente aceitam. Em uma das cenas mais horripilantes, patrões e os pais de uma trabalhadora grávida combinam o aborto que esta deverá contratar para não atrapalhar a linha de montagem.
O mundo confronta um processo de reconciliação com os piores atributos da globalização. É possível assistir este filme e refletir sobre a resiliência da condição humana, de sua emergência entre histórias de amor, violência e emoção dentro de qualquer ambiente. Só que isto é um desserviço, visto que os anos de juventude de tantos não deveria ser algo pelo qual se luta para ter. Anos perdidos.
Avaliação: Ótimo (4 estrelas)