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Cannes: Jeanne du Barry, de Maïwenn

O buchicho em volta da sessão de abertura é grande, mas o filme em si é completamente padrão.

atualizado

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Festival de Cannes/Divulgação
Jeanne du Barry
1 de 1 Jeanne du Barry - Foto: Festival de Cannes/Divulgação

Uma das qualidades de um filme que conta uma história de amor é poder fazer transcender das telas o que personagens por vezes tão diferentes veem um no outro. No caso de “Jeanne du Barry”, as conotações vem também de suas estrelas principais. Jeanne du Barry, uma mulher saída da pobreza que penetra a corte francesa, veja, foi amante do Rei Luís XV, um dândi mimado e hedonístico. Maïwenn, como protagonista e diretora, é uma personalidade francesa circundada pelo movimento #MeToo, devido à seu relacionamento, enquanto menor de idade, com o quarentão francês Luc Besson, nos já distantes anos 1990. Depp, por sua vez, como o rei francês, tem seu retorno à telona após o escândalo e julgamento de seu relacionamento com Amber Heard, onde fora acusado de abuso e violência doméstica.

Dessa maneira, a própria Croisette, calçadão famoso que leva, olha só, ao “Palácio Lumière”, aonde acontecem as sessões do Festival, não ficou tão distante dos corredores de Versalhes, tomado por cochichos e expectativas em torno do lançamento do filme. Nele, acompanhamos Jeanne desde sua infância. Vinda de uma família pobre, é vista como um instrumento de ascensão social pelos pais ao ser casado com o Conde du Barry (Melvil Poupaud). Este, seguindo o mesmo interesse, a leva para eventos da Corte, aonde sua beldade e ar um tanto rebelde e livre chama a atenção do rei viúvo.

Jeanne não é uma vítima, mas sim uma aproveitadora do sistema que lhe propõe possibilidades tão limitadas. Foi enquanto prostituta que conhece o marido conde, embora o termo preferido talvez seja cortesã–diferente do primeiro apenas por tratarmos de realeza. É com essa falta de vergonha com suas escolhas que o filme se diverte, especialmente com um prolongado exame ginecológico que os assessores do Rei são obrigados a submetê-la, na frente do marido e da mãe. Jeanne se diverte.

É apenas a partir deste primeiro encontro que Jeanne e o Rei que filme começa a navegar águas rasas e já vistas: a proposta “escandalosa” do Rei passear com uma amante, o ciúme das outras mulheres que trafegam pelos mesmos espaços e o declínio de uma monarquia contrastada com o declínio na saúde de Luís XV. Ao redor disso tudo, apenas os dois amorosos, que se amam por razão nenhuma a não ser a do filme depender disso. Um dos problemas pode ser a necessidade de acomodar a performance francesa de Depp, cujas falas são sempre curtas e diretas, frequentemente de costas, de lado, ou com a boca fora de cena, para não evidenciar dublagem pelo próprio ator.

O que impressiona neste novo trabalho de Maïwenn é a extensão de seu acesso às locações reais, especialmente Versalhes, e a riqueza da direção de arte, para a qual a diretora teve o maior orçamento de sua carreira. Desta maneira, o filme tem uma plasticidade de museu, aonde as figuras reais são mostradas em poses interessantes, bem iluminadas e realizadas, porém sem a graça ou personalidade que tinham enquanto viviam sua época.

Avaliação: Regular (2 estrelas)

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