Cannes: Elemental, de Peter Sohn
Filme mais ambicioso da Pixar desde Wall-E terá um futuro incerto entre públicos infantis e adultos.
atualizado
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O novo filme da Pixar começa com um barco aportando em uma grande metrópole. Dentro dele, um casal de imigrantes, a mulher grávida. A vida que eles construirão, e as escolhas que a pequena filha fará no começo da vida adulta formam a base da história, e é difícil imaginar que esse tipo de história tenha um apelo para o público infantil. Talvez seja por isso que o estúdio Pixar tenha transformado todos os personagens desta história em um dos quatro elementos da natureza: fogo, água, terra e ar.
Bernie (Ronnie del Carmen) e Cinder (Shila Ommi) chegam à Element City (Cidade Elemento, claramente inspirada em Nova Iorque) e são rapidamente assimilados no porto de entrada. O começo já indica que o casal saiu de sua terra natal em busca de uma vida melhor, já que a pequena Ember (Leah Lewis) está pra nascer. É uma história comum aos Estados Unidos, terra de imigrantes constantemente sofrendo com o ostracismo cultural e a xenofobia atualmente espalhada pela extrema-direita. Nesta cidade, os cidadãos compostos de fogo formam uma sub-classe social, agregados em um bairro que remete à enclaves culturais, como Chinatown, bairros Latinos, etc.
Só que “Elementos” não está tão focado em socio-político, formatando a experiência de imigrantes para adequar uma comédia romântica. Ember trabalha na loja dos pais, que sonham com o dia em que ela assumirá o negócio. Problemas no sistema pluvial da cidade trazem o homem-água Wade (Mamoudou Athie) até a lojinha de Bernie, e a necessidade de Ember em proteger a loja entra em conflito com os procedimentos regulatórios de Wade, que trabalha para uma cidade que privilegia os cidadãos aquáticos, em detrimento a todo o resto. Complicações e romance resultam…
A Pixar é conhecida hoje por ser a ponta de lança do mundo de animação (e por isso, foi devidamente comprada pela Disney anos atrás). Por isso, o interesse em ambientar a história do filme neste universo faz mais sentido numa perspectiva de desenvolvimento de habilidades de animação do que como um filme infantil. Neste quesito, como sempre, o estúdio arrasa. Além de criatividade imaginativa de criar uma cidade habitada por elementos humanizados, o estilo de animação é diferente de tudo o que veio antes e mais impressionante.
Desde “Wall-E” que a Pixar não monta um filme tão além das expectativas de um filme que se identifica como infantil. É um salto ambicioso, mas cujos resultados serão imprevisíveis.
Avaliação: Bom (3 estrelas)