Bernardo Carvalho investiga paternidade e política no Brasil em livro
Em Os Substitutos, Bernardo Carvalho aborda as relações entre pai e filho na Amazônia durante a ditadura militar
atualizado
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Desmatamento, forte presença das Forças Armadas na política, madereiros ilegais. Os temas ocupam o imaginário do Brasil dos anos 1970, em plena a ditadura militar, e, por mais incrível que pareça, no passado mais recente do país. Essas duas dimensões são um dos pontos abordados por Bernardo Cavalho, no romance Os Substitutos.
Ao narrar a relação entre um pai e um filho de 11 anos, que viagam para o coração da Amazônia com intenção de explorar um latifúndio na Amazônia. Tudo em meio à ditadura militar, mostrando os traços de corrupção e violência que marcaram o Brasil nos últimos 60 anos.
Mas, o contexto político se mistura, na narrativa do autor, com uma reflexão sobre as relações masculinas.
“É um livro completamente masculino, que examina diversos modos da masculinidade, da relação de paternidade às relações homoafetivas. Eu queria pôr isso em confronto com as contradições de uma espécie que avança em alta velocidade para o precipício”, explica Bernardo Carvalho, ao Metrópoles.
Mesmo discutindo a questão da masculinidade, Carvalho entende que Os Substitutos também aponta na direção de uma discussão sobre a sociedade brasileira.
“Acho que nos últimos anos escancarou-se como isso se articula no Brasil, pela formação mafiosa de grupos familiares na política, apropriando-se do que é público”, argumenta o autor. “No romance, o que me interessa é a relação de paternidade envolvendo uma figura de pai abjeta e perversa do ponto de vista social, mais objetivo, mas que ainda assim permite, no campo da intimidade subjetiva, a perpetuação do amor filial. É dessa contradição, dessa inconsequência entre público e privado, com efeitos que transcendem as relações íntimas e pessoais”, completa.
O fim da humanidade
É da relação entre pai e filho, também, que Bernardo Carvalho investiga o que chama de “um elemento suicida” da humanidade. Trata-se de uma reflexão sobre a destruição ambiental, um dos temas mais inquietantes e proeminentes da contemporaneidade.
“Será que a autodestruição é o nosso destino? Essa é uma questão que me incomoda já há algum tempo e eu acho que a literatura, por suas potencialidades autorreflexivas e trágicas, é capaz de adentrar essa zona nebulosa”, opina o escritor.
Na trajetória da escrita, o autor buscou construir os paralelos entre a história brasileira, com enfoque na ditadura militar, e o momento que o país vivia no início de 2022.
“Depois da experiência da pandemia e de um governo de extrema direita, me pareceu natural voltar ao passado da ditadura brasileira para encarar, na fonte, muito do que até outro dia, pela nossa cegueira talvez interessada, a gente achava impensável”, conlui.