Sub-Dulcina: reduto underground de todas as tribos de Brasília
Espaço é palco de manifestações artísticas diversas e endereço fixo da contracultura da capital
atualizado
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Com paredes tomadas por grafites ultracoloridos e frases de protesto, o subsolo da Faculdade Dulcina de Moraes (Conic) transformou-se na mais emblemática galeria de arte urbana do Distrito Federal. Fruto do trabalho de revitalização feito pelo movimento Dulcina Vive, com desenhos assinados por nomes como Daniel Toys, Gurulino e Amanda Owls, o espaço – antes deteriorado pelo tempo e descaso dos governantes – foi ressignificado. Virou palco de manifestações artísticas diversas e endereço fixo da contracultura de Brasília.
Avessos aos points badalados pela massa e à trilha sonora mainstream, brasilienses fizeram do Sub-Dulcina o ponto mais underground da capital federal. No “inferninho”, a premissa é o respeito às liberdades individuais e o acolhimento às diferenças é soberano. O resultado: público cativo, vindo de todas as Regiões Administrativas do Distrito Federal.
Bandas de hardcore e metal, DJs de hip hop, estúdios de tatuagem, as famosas camisetas de Brasília, cultura periférica, o movimento negro, as manifestações LGBTQ+: todas as expressões culturais se encontram no Conic. No meio dessa efervescência, o Dulcina. “Ele sempre foi a principal referência”, afirma Kaká Guimarães, produtor cultural responsável pelo local.
Na programação alheia aos modismos, os ritmos são variados: ragga, hip hop, funk, música eletrônica e a dançante tropicália, entre tantos outros. O palco já apresentou ao público local atrações do cenário alternativo nacional, como Liniker, os rappers Rico Dalasam e Tássia Reis, e a banda de rock goiana Carne Doce.
O espaço sedia festas que fazem parte do calendário da cidade, como a Afete-se, o Baile Dionisíaco, Mete o Loko e Furacão 3000. “O nosso desejo sempre foi valorizar o centro da cidade, tão mal aproveitado pelos candangos”, explica Kaká Guimarães.
Além de movimentar a cena cultural de Brasília, Kaká conta que parte da renda arrecadada com os eventos realizados no Sub-Dulcina são revertidos para os gastos com a subsistência da instituição. “O Dulcina e o Conic foram esquecidos no passado, hoje, a sociedade e o governo têm acompanhado mais de perto esse patrimônio tão importante para cidade”, pontua o produtor.
Moradoras de São Sebastião, a estudante Bia Estiano e a comerciante Kelbya Coutinho, ambas com 23 anos, são frequentadoras assíduas dos eventos realizados no Sub-Dulcina. O casal de namoradas afirma encontrar nas festas muito mais que diversão. “Aqui, temos um ambiente onde nós podemos viver o nosso amor livre dos olhares homofóbicos”, opina Bia.
De acordo com a comerciante, a segurança e a maneira respeitosa com que todos se tratam também são fatores determinantes. “Nunca fui abordada de maneira agressiva por nenhum homem aqui. Ninguém chega nos tocando, assediando, sabe? A gente se sente segura de curtir à vontade”, completa Kelbya.
Antes mesmo de começar a performar como a drag queen Amenda Nudes, o publicitário Marconi Henrique, de 25 anos, visitava as instalações do subsolo. “Sempre fiquei impressionado como todas as tribos coexistem pacificamente aqui, com o único propósito de diversão”, conta o artista. Há dois anos, porém, o Sub-Dulcina ganhou sentido especial quando Marconi decidiu perder a timidez e mostrar para o mundo a estética de Amenda.
“O Dulcina foi o primeiro lugar que me abriu as portas como drag profissional, onde recebi meu primeiro cachê”, lembra Marconi. Segundo ele, toda a história do Dulcina o inspira a produzir as cenas com vertentes políticas. “Aqui não tem censura, posso criar com liberdade”, considera o performer. Assim como o casal Bia e Kelbya, Amenda Nudes nunca viveu nenhuma situação de constrangimento ou agressão no espaço: “Desde os seguranças, somos abraçados”.
Matheus Alves, Jéssica e João Sampaio veem o Sub-Dulcina como um local que acolhe todas as culturas
Os amigos Matheus Alves, 22 anos, Jéssica Sampaio, 27, e João Sampaio, 23, saem de Samambaia para “dançar até amanhecer” e sempre cumprem a “missão”. O repertório dos DJs agrada, em especial, os irmãos e dançarinos profissionais Jéssica e João. “O som é mais alternativo, vai além do que toca nas rádios”, explica João. Os três concordam quanto ao principal atrativo do Sub-Dulcina. “A localização central facilita o encontro de todas as periferias de Brasília”.
Próximos eventos
Festa do Santo Forte
Dia 1º de setembro, das 23h às 6h, no subsolo da Faculdade Dulcina de Moraes (Conic). Ingressos: R$ 30 (antecipado), R$ 40 (até a 1h) e R$ 50 (após a 1h). Informações pelo e-mail santofortebsb@gmail.com. Não recomendado para menores de 18 anos
Baile Dionisíaco
Dia 6 de setembro, das 23h às 6h, no subsolo da Faculdade Dulcina de Moraes (Conic). Não recomendado para menores de 18 anos
Festa da Kingdon Comics
Dia 8 de setembro, das 10h às 18h (feira). Das 23h às 6h (festa). No subsolo da Faculdade Dulcina de Moraes (Conic). Não recomendado para menores de 18 anos
Lust
Dia 14 de setembro, das 23h às 6h, no subsolo da Faculdade Dulcina de Moraes (Conic). Não recomendado para menores de 18 anos
Furacão 3000
Dia 22 de setembro, das 23h às 6h, no subsolo da Faculdade Dulcina de Moraes (Conic). Não recomendado para menores de 18 anos
Mete o Loko
Dia 22 de outubro, das 23h às 6h, no subsolo da Faculdade Dulcina de Moraes (Conic). Não recomendado para menores de 18 anos