Novo centro antigo: Setor Comercial Sul é oásis da balada em Brasília
O local, ocupado culturalmente nos últimos meses, oferece programação variada e vê a criminalidade cair
atualizado
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A noite no Setor Comercial Sul (SCS) começou aos poucos. Um produtor aqui e outro acolá promoviam atividades culturais no espaço que recebe 200 mil pessoas por dia. A cada balada, o novo point conquistava os brasilienses. Agora, semanalmente, festas de pequeno, médio e grande porte ocupam o centro de Brasília.
A vida alternativa da capital é no SCS. De quinta a sábado, agitos variados se espalham por becos, estacionamentos e lojas. Tem show, balada e roda de samba. Aos poucos, o centro de Brasília reproduz fenômeno ocorrido na Augusta, em São Paulo, e na Lapa, no Rio de Janeiro. Baladas dominam as ruas e afastam a criminalidade.
O Criolina, por exemplo, passou a promover festas para 2 mil pessoas no SCS. O DJ Pezão, um dos integrantes do coletivo, define o espaço como o “futuro centro antigo”.
É a paisagem brasiliense que mais lembra uma cidade, com becos, grafites, prédios altos. Cenário perfeito para festas
Pezão
As festas do Criolina no SCS promovem uma sensação diferente. Em espaços apertados, milhares de baladeiros se espremem entre prédios. Nas fachadas, VJs projetam imagens psicodélicas e referências à capital. Bares e banheiros escondem-se em subsolos. No dia 12 de agosto, o coletivo volta aos becos em um festival com 15 atrações.
Diálogo
Outro coletivo também atua para encher de vida o centro que já foi uma cracolândia. O Labirinto, formado pelo trio Caio Dutra, Rafael Sebba e Felipe Daher, promove diálogo entre produtores culturais, comerciantes e moradores.
O projeto Q Cultural (ex-Quinta Cultural) também foca na aproximação com a comunidade. Produzido em parceria com a revista “Traços” — publicação comercializada por moradores de rua —, o evento recebe, semanalmente, 600 pessoas.
O Espaço Cultural Canteiro Central também possui programação semanal: às terças, teatro; quinta, sexta e sábado, shows e baladas são as apostas.
Viva a música
A Lei do Silêncio é hoje motivo de grande discussão na cidade. Governo, baladeiros e caseiros tentam chegar a um acordo sobre o nível de ruído tolerável. No SCS, isso passa longe de ser um problema.
Durante a noite, os prédios de escritório ficam vazios. Portanto, o som alto das picapes não incomoda ninguém. “As áreas residenciais estão em conflito com os produtores e bares.”
Guilherme Reis, secretário de Cultura do DF, apoia o uso do SCS como forma de driblar a rigidez da legislação. “Apoiamos a ocupação dos centros da cidade com programação musical e artística. São ações que buscam modernizar a Lei do Silêncio. Precisamos de um centro vivo”, avalia.
Sai o crime, entra a cultura
A ocupação do centro da cidade é vista com bons olhos também pela Secretaria de Segurança Pública. O subsecretário de Operações Integradas, Leonardo Sant’Anna, coloca que a revitalização do local trouxe uma redução na criminalidade, principalmente, no uso e tráfico de drogas.
É algo que também ocorreu em outras regiões do mundo, como Puerto Madero, em Buenos Aires. O Estado se faz presente, facilitando o lazer e a cultura. Isso afasta o crime do local
Leonardo Sant'Anna
Os dados refletem essa melhoria na sensação de segurança. Em 2015, foram registrados oito homicídios na região. De janeiro de 2016 para cá, quando a ocupação cultural ganhou força, não se soube de nenhum caso. Ocorrências de uso e tráfico de drogas também tiveram redução expressiva: de 130 casos para 80.