Autora mineira reflete sobre luta contra a depressão em livro
Escritora Julia Alfa lança o primeiro livro Observador de Pássaros, com poemas e textos refletindo sobre crescer e luta contra depressão
atualizado
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Na passagem da adolescência para a vida adulta, a escritora mineira Julia Alfa, de 23 anos, enfrentou uma batalha contra depressão e ansiedade. O período turbulento inspirou poemas e textos, que se tornaram o livro Observador de Pássaros, lançado no começo de junho.
A obra separa as 56 páginas em dois segmentos narrativos: queda e voo. “Essa divisão representa precisamente os momentos mais difíceis da minha depressão, na queda, quando eu realmente me vi em queda-livre, e o momento em que eu comecei a melhorar e me reerguer novamente, no voo”, explica a autora.
A arte foi um porto seguro para cuidar da saúde mental. Escritora desde a infância, Júlia começou a desabafar em blocos de notas e desenhos, fazendo da escrita um processo “bem orgânico”.
Seguida pelo desejo de se libertar, quando estava em um momento “sombrio”, o conceito para o livro voou em sua mente. “Eu recorria a ela [escrita] em todo momento no qual eu não sabia para onde correr”, conta Julia.
“Eu acredito que a arte, no geral, tem esse poder de transformar seus sentimentos mais angustiantes em obras primas. Toda vez que eu desabafava no papel, era um alívio”
Assim, toda a narrativa do projeto vem de uma busca por autoconhecimento. “Minhas confusões emocionais e psicológicas que sempre me intrigaram. Meus sentimentos eram fascinantes para mim mesma, e eu sempre me pus a escrever para buscar entendê-los”.
“Era, e ainda é, um eterno monólogo escapista. Eu escrevo toda vez que meus sentimentos borbulham até o topo, e isso me ajuda a acalmá-los. Acredito que sempre podemos contar com a arte para nos ajudar”.
Os poemas de voo nasceram “quase que juntamente ao livro”, quando Julia começou o tratamento. “Hoje, ao lê-los, sinto-me extremamente triste por reviver sentimentos tão pesados, tristes e, ainda assim, tão familiares a mim”, afirma a autora.
“Agora também posso me sentir feliz e orgulhosa por pensar que eu fui forte o bastante para enfrentar tudo que enfrentei e estar, hoje, com asas abertas para voo”.
Além de escritora, Julia também é cineasta, e sempre procura se especializar cada vez mais na arte de contar histórias.
Vulnerabilidade
Por ser um projeto muito íntimo, Julia conta que hesitou em me abordar alguns temas nas poesisas. “Pensei em retirar alguns [poemas] da publicação final, mas eu decidi abraçar essa vulnerabilidade. Eu expus meus sentimentos, minhas patologias, meus relacionamentos, minha sexualidade”.
“Eu pensava principalmente na minha família, que com certeza leria aquilo e enxergaria uma visão de mim não conhecida anteriormente. Mas, se eu não fosse completamente sincera com esse livro, eu não seria honesta comigo. Não estaria satisfeita”.
Ela comenta que, sem a exposição, o livro não seria o “Observador de Pássaros”. “Seria outro livro, talvez, mais podado. Mas para transmitir tudo o que eu queria que fosse transmitido, eu decidi me entregar à vulnerabilidade e deixar que mais pedaços de mim fossem conhecidos”.
“Eu espero que esse livro deixe um rastro de esperança em todos que o lerem. Muitas vezes, viver se torna uma batalha complicada — pelo menos foi, para mim, durante muitos anos. E eu ainda sou jovem, então sei que enfrentarei momentos ruins novamente. Sempre teremos a queda. Mas eu quero que fique o recado de que, da mesma forma, também sempre teremos o voo.”
Leia o prefácio de Observador de pássaros:
“O medo de voar está quase atrelado ao medo de cair. O medo esvai quando o lápis toca a folha de papel pela primeira vez e cria um mundo imaginário inundado por poesia, prosa e magia. “Observador de pássaros” é um livro de poemas dividido entre as fases de ‘queda’ e de ‘voo’. Textos mais tristes são encontrados na primeira fase, e mais esperançosos na segunda…Neste meio tempo, as dificuldades em viver com a depressão, a ansiedade e autismo. Apesar dos desafios, a poesia não teme. Ela alça voo; ela cai. Ela explica o inexplicável, e recolhe-se na sua incompreensão… Ela baila continuamente como um pássaro que desbrava os céus, destemida”.