Autor do livro explica sobre o que é o filme O Mundo Depois de Nós
Rumaan Alam, autor de O Mundo Depois de Nós, explicou como o mistério é importante para o livro que inspirou o filme da Netflix
atualizado
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O Mundo Depois de Nós se tornou o filme mais visto dos últimos dias da Netflix. O longa, protagonizado por Julia Roberts, Mahershala Ali e Ethan Hawke, mostra o planeta em meio a uma catástrofe, enquanto as férias de uma família é arruinada.
O longa, que tem dividido opiniões na internet, é baseado em um livro de mesmo nome, escrito por Rumaan Alam. Um dos pontos mais controversos das duas obras é o final: leitores e telescpectadores não recebem muitas informações sobre a catástrofe em curso.
Enquanto alguns adoraram a decisão narrativa, outros acharam que o a história tem muitas pontas soltas. Ao Metrópoles, o escritor explicou porque tomou essa decisão.
“Essa é fundamentalmente uma história sobre não saber. O que é mais assustador sobre a vida do que o fato de que nunca sabemos o que vai acontecer com a gente?”, avalia Rumaan Alam.
Confira a entrevista com Rumaan Alam.
Rumaan, você trabalhou com Sam Esmail na adaptação?
Sam é um ótimo escritor e um diretor brilhante; o roteiro foi todo dele e, na minha opinião, essa foi a melhor opção. Ele realmente entendeu o espírito da história e sabia como adaptar para a tela.
O Mundo Depois de Nós é um filme sobre os nossos tempos?
De alguma forma, todo livro é um livro sobre os nossos tempos. Se um leitor vai até um livro ou outro tipo de arte procurando uma explicação do mundo, vai encontrar algo. Todos os livros podem iluminar a vida de uma pessoa, o mundo, os políticos…
É claro, porém, que eu tinha algumas ideias quando escrevi o livro: qual a nossa relação com a tecnologia? Como estamos como humanidade para enfrentar as catástrofes dessa era? Essas são questões que tem bastante peso para muitos leitores e talvez sejam até atemporais.
No filme, Ruth é filha de G.H (no livro, ela é esposa do personagem). Como essa mudançã impacta a história?
Essa é a mudança mais significativa da adaptação. Acredito que é uma interessante reinterpretação da minha história, permite ao Sam (Esmail) explorar as diferenças geracionais e acho que funcionou muito bem porque a personagem foi vivida pela My’hala, uma extaordinária e talentosa atriz.
Quão importante são os conflitos raciais mostrados na história?
Na minha opinião, esse romance começa como um livro sobre a vida de uma família e vai pouco a pouco inserindo o conflito racial e de classe. Em seguida, mistura tudo isso.
De certa forma, você tem personagens de diferentes raças interagindo, então, sim, é sobre raça. Mas também é verdade que uma história que não trate explicitamente de questões raciais possa ser lida por esse ângulo. É um tema muito amplo e é algo que estou explorando. No entanto, sou realístico sobre minha habilidade de dizer algo novo e inteligente sobre isso.
Por que você optou por não revelar, na história, qual a natureza da catástrofe que atinge o planeta?
Essa é fundamentalmente uma história sobre não saber. O que é mais assustador sobre a vida do que o fato de que nunca sabemos o que vai acontecer com a gente? Eu sinto que ser vago sobre a ameaça é a única maneira de escrever sobre isso. Os personagens não sabem o que se passa, o leitor não sabe… tal qual a vida.
G.H. parece ser um homem com grande humanidade. Você concorda? Se sim, por que ele é o ser humano mais amável no livro?
Eu gosto muito de GH, ou tanto quanto alguém pode gostar de uma pessoa fictícia inventada por você mesmo! Acho que ele é um homem erudito e com uma decência essencial, mas também espero que os outros personagens tenham suas qualidades redentoras. Parece haver um apetite entre os leitores contemporâneos por personagens admiráveis, mas uma ficção que aspira ao realismo não pode ser povoada inteiramente por heróis. Basta olhar ao redor para ver como as pessoas realmente são! É muito mais complicado.
Na sua opinião, o que diferencia O Mundo Depois de Nós de outros livros de “fim do mundo”?
Embora seja um gênero que eu aprecie bastante e tenha lido muito sobre, entendo que este livro não se encaixa confortavelmente no que chamamos de romance apocalíptico, ou distopia, ou o que quer que seja. Não se trata de uma era, mas de alguns dias; não se trata das consequências de alguma grande interrupção, mas do seu início; não se trata de um futuro imaginado — trata-se do hoje.
