Atrizes mais bem pagas ganharam metade do salário dos homens em 2020
Levantamento do (M)Dados mostrou que as mulheres receberam US$ 291.500 milhões a menos que os colegas, mesmo em papéis de protagonismo
atualizado
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Assim como acontece todos os anos, a revista Forbes divulgou uma lista com os 10 atores e atrizes mais bem pagos do mundo em 2020. No caso dos homens, o ranking é liderado por Dwayne Johnson, com US$ 87,5 milhões (cerca de R$ 469 milhões). Já Sofia Vergara encabeça a lista feminina, com US$ 43 milhões (cerca de R$ 240.671 milhões). O que mais chama atenção é a diferença salarial entre os gêneros: Vergara ganha menos que o 8º ator com maior arrecadação no ano, além de todas as mulheres juntas faturarem 46% a menos que os homens.
O (M)Dados, núcleo de análise de grande volume de informações do Metrópoles, analisou os salários divulgados pela revista no núcleo feminino e masculino. No total, The Rock, Ryan Reynolds, Mark Wahlberg, Ben Affleck, Vin Diesel, Akshay Kumar, Lin-Manuel Miranda, Will Smith, Adam Sandler e Jackie Chan faturaram US$ 545.500 milhões em 2020. Juntas, Sofia Vergara, Angelina Jolie, Gal Gadot, Melissa McCarthy, Meryl Streep, Emily Blunt, Nicole Kidman, Ellen Pompeo, Elisabeth Moss e Viola Davis embolsaram US$ 254 milhões. A diferença é assustadora: as mulheres receberam US$ 291.500 milhões a menos que os homens.
A diferença de salários se torna ainda mais visível quando se considera que os atores trabalharam em papéis na mesma produção, como é o caso de Ryan Reynolds, The Rock e Gal Gadot, trio de protagonistas no filme Red Notice, que será lançado pela Netflix em novembro do ano que vem. Segundo a Forbes, Dwayne Johnson faturou US$ 23,5 milhões de sua fortuna apenas pelo papel no longa. Já o eterno Deadpool embolsou um cheque de mais de US$ 20 milhões pela produção. Enquanto isso, Gal Gadot, uma das protagonistas, ganhou US$ 20 milhões pelo papel.
“O fato disso acontecer na indústria cultural enfatiza a questão da desigualdade de homens e mulheres em cargos de poder. É um setor que vai pensar em conteúdos sexistas, que privilegiam os homens na sociedade. E é uma indústria assediadora de mulheres, de atrizes famosas, de celebridades, de produtoras, de diretoras que se referem aos abusos que sofreram com conhecimento das equipes nas quais trabalharam”, afirma a professora Elen Geraldes, da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (UNB), em entrevista ao Metrópoles.
Além das produções em comum, os atores, tanto homens quanto mulheres, estão presentes no streaming, que reafirmou seu protagonismo diante o cinema e a televisão durante a pandemia do novo coronavírus. Netflix, Hulu, HBO Max e Amazon Prime Video são responsáveis pelos salários de 14 dos 20 atores da lista da Forbes, que encabeçam o elenco de filmes e séries originais das plataformas.
“Seria algo aceitável conceber uma desigualdade tão evidente salarial? Se questionar as mulheres sem contextualizar a situação, vai gerar uma informalidade. [Com esses dados] nós mostramos o quão invisíveis as atrizes estão. Os protagonistas e personagens principais sempre são homens. Tem uma balança que pesa em relação aos homens e a desvantagem em relação a ocupação da construção das personagens”, esclarece a professora Erci Ribeiro, do curso Serviço Social no Centro Universitário IESB.
Desigualdade de gênero
Mesmo que os movimentos feministas tenham ganhado destaque no decorrer dos anos para evidenciar e valorizar o trabalho das mulheres, além de buscar pela igualdade salarial entre os gêneros, a indústria cultural, principalmente no âmbito cinematográfico, ainda é tomada pela presença masculina. Um levantamento feito em 2019 pela Annenberg Inclusion Initiative e divulgado pela revista The Hollywood Reporter mostrou que 33 dos 100 filmes de maior bilheteria nos Estados Unidos não tinham nenhuma mulher negra no elenco. Além disso, mulheres asiáticas não aparecem em 55% dos filmes de maior bilheteria do ano passado. A situação se agrava para as mulheres latinas, que estão ausentes em 71% dos filmes selecionados pela pesquisa.
O levantamento da Annenberg evidenciou ainda um ganho discreto, em relação a 2018, em longas protagonizados por mulheres entre os 100 filmes mais lucrativos do ano. No ano passado, foram 43 os filmes com mulheres no papel principal, já em 2018, eram apenas 39.
Elen Geraldes lembrou que a desigualdade de gênero é um problema histórico na sociedade, e que os movimentos feministas cooperam para quebrar os elos que ainda impedem a igualdade entre as partes. “Os movimentos feministas lutam para realizar denúncias, para apresentar o problema e para que cada vez mais pessoas enxerguem essa situação. Essa tendência a enxergar, junto ao crescimento do empoderamento feminino, tende a ter impactos nos salários, mesmo que a indústria ‘hollywoodiana’ seja um local muito desigual”, comenta.